24 março 2024

24 de março de 2024: Homenagem à nossa Nita (1947-2023) (Chita)


Peniche,  Cabo Carvoeiro,com as Berlengasd ao fundo: a Nita e a Chita, 6 de agosto de 2021. 

Foto: Luís Graça (2024)


24 de março de 2024: Homenagem à

nossa Nita (1947-2023) 

pela Chita



Há um ano que partiste…para a viagem mais solitária, que todos temos de fazer um dia, mais cedo ou mais tarde, a da despedida da Terra da
Alegria…

Tu partiste, maninha… E deixaste cá tudo, o que não precisavas, para essa tua última viagem, incluindo a Quinta de Candoz…

Tu partiste, mas deixaste-nos o espírito de Candoz, que tu sempre viveste e representaste como ninguém, ao longo de quase quatro décadas… Esse espírito continua vivo e a inspirar-nos.

Tu partiste, Nita, mas podes continuar a ter orgulho no teu Gusto, nos teus filhos e noras, nos teus sobrinhos, em todos nós que aqui estamos: enquanto secamos as nossas lágrimas, e suspiramos por ti, prometemos também nunca te esquecer, e manter vivo o teu testemunho, o teu exemplo de vida, o teu amor a este cantinho que é
Candoz.

Tu partiste, mas sempre personificaste o dom, a doçura, o prazer e a alegria de dar e receber.

Tu partiste, minha querida mana, mas todos nós tentámos dar a volta à nossa dor, elegendo-te como a nossa deusa tutelar, protetora e inspiradora.

Tu partiste, mas continuamos a fazer, juntos, coisas lindas como este vinho na tua/nossa Quinta de Candoz…

Foi um sonho lindo, sobretudo do teu filho Tiago. Ele quis, e nós todos quisemos, fixar uma parte de ti, o melhor de ti, a tua “alma”, no rótulo e no conteúdo das garrafas deste nosso vinho, colheita especial de 2023, o ano em que partiste!

Na Quinta de Candoz, tu foste, comigo (e claro o teu homem), a mais entusiástica do projeto de modernização da cultura da vinha, há 40 anos.

Agora, com outras condições tecnológicas e com o apoio de enólogo, temos a primeira colheita e a primeira garrafa com o teu nome, o teu “petit-nom”, Nita.

Para além dos sabores e cheiros que o enólogo tão bem identificou, nós acrescentamos: tem também uma lágrima tua, uma pitada da tua alegria de viver, da tua felicidade na terra, muita da tua essência, do
teu perfume, da tua generosidade, das tuas memórias e referências, que são também as nossas…

Fazer este vinho (e agora prová-lo em neste dia tão especial) deu-nos vida e, acima de tudo, reforçou a nossa vontade de continuar a cuidar do teu legado..

Nita, tu partiste apenas, não “morreste” (nos nossos corações)…

Deixo aqui também um álbum com os versinhos e as orações que te dedicámos, eu e a minha família, e também uma seleção de fotos dos nossos melhores momentos.

Vou também agora brindar, com muita emoção, à tua memória, mas também à nossa vida, aos teus amores e aos teus amigos, incluindo os do ISEP, dos coros e do cavaquinho, que quiseram estar aqui
contigo e connosco.

Um brinde também aos nossos descendentes, filhos e  sobrinhos, que admiravelmente estão a manter vivo e a reinventar o espírito de Candoz.

Lá no alto, lá na tua “estrelinha”, querida Nita, continua a proteger-nos, a velar por nós e a inspirar-nos!

Até sempre, minha querida mana e amiga!

Tua Chita, Quinta de Candoz, 24 de março de 2024.



Nita, Quinta de Candoz, Vinho Branco verde, seleção 2023, 13º 
 Foto: Chita (2024)

24 de março de 2024: Hoje, só me apetece gritar: ainda era cedo, Madrinha, Tia Anita! (Cristina Barbosa)





Lagos, 1981 > Junto à estátua do rei Dom Sebastião de José Cutileiro (1973): da esquerda para a direita, Gusto, Filipe, Cristina, Nita, Joana, Chita, Béu… (Ainda estavam para nascer o João e o Tiago)

 Foto: Luís Graça (2024)


Ainda era cedo, Madrinha, Tia Anita!


por Cristina Barbosa


Há um ano atrás, o dia amanheceu. e logo de imediato, ficou nublado e muito triste!

Em casa de cada um dos teus amores, se suspirava por ti... Não quero falar muito sobre esse dia.

Desde que me conheço gente, nomeie-te de minha segunda mãe, e tu correspondeste a este valor que te atribuí.

Pois foi, ensinaste, ouviste, reprendeste, preocupaste, ajudas-te, sofreste, sorriste, abraçaste (me), o inerente a cada um destes verbos, juntando o nós em cada momento que eu precisei.

Estavas SEMPRE lá!!

Gostei tanto de te ter presente na minha vida, que estendi-te a ti e ao tio Gusto, o convite de padrinhos do meu filho mais velho, o Nuno, ao que prontamente acederam e, por quem nutrem carinho igual ao que têm por mim.

Tenho a cada dia 24, feito uma espécie de “Diário de Bordo”, sobre o que vivi contigo e com os eus... Faz-me bem!... Hoje, vou partilhar algumas de tantas coisas que vivenciamos. Guardarei sempre o nosso último encontro, foi maravilhoso e vou guardar o teu último beijo e o teu último sorriso às sete chaves para que não mo possam tirar.

Agora Candoz...

A primeira vez que lá cheguei após a tua partida, faltavas tu para me receber com o teu bonito orriso acolhedor, a alegria do teu olhar luminoso igualável À tua presença empática, simples, mas enorme como os teus abraços. Bem tentei previamente preparar-me para o momento. Mas a cada janela que abria, vinha a vontade de me assomar a ela e gritar... Tudo me falava (fala) de ti. As flores, a vinha, os tachos, o linho, os odores, o pó...

Após este ano, nada disso mudou. Mudou a nossa dinâmica em família de continuar viva Candoz, em homenagear-te em tudo o que fazemos, colocando um amor igual ao teu.

Hoje, senti a tua falta! No primeiro Domingo de Ramos sem a tua presença física, naquele almoço que gostava de preparar para vós com todo o carinho. Agora recebo um bocadinho de ti através do Tio e dos meus primos. Vou pedir ao Kiko que gosta de Candoz para passar o texto a computador, porque no rascunho são visíveis as marcas das lágrimas que me caem no rosto.

Hoje, só me apetece gritar: Ainda era cedo, Madrinha, Tia Anita!

Cristina Barbosa

A tua afilhada, ANA Cristina 24/03/24

23 março 2024

Quinta de Candoz: a sagração da primavera e o lançamento do nosso vinho, Nita, edição especial 2023

 












Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz> Quinta de Candoz > 21/22 de março de 2024  > "Aguarelas" da primavera ... No fundo do vale passa a linha do Douro (que liga Ermesinde ao Pocinho, numa extensão de 160 km)... Do outro lado é já concelho de Baião. E,  do lado direito, não vívísel nas fotos, o rio Douro, a barragem do Carrapatelo, o Porto Antigo, a serra de Montemuro, Cinfães...


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (Todas as imagens, exceto a primeira de cima, e as duas últimas, são  HDR - High Dynamic Range, tiradas sem tripé)



 1. A Quinta de Candoz, já nas faldas da serra de Montedeiras, ainda hoje assombrada pelo fantasma do Zé do Telhado (1816-1875) e do seu bando, tem múltiplos encantos ao longo do ano... Neste caso, na Primavera, que começou a 20 de março e vai até 20 de junho... 

Já temos poucas "cerdeiras" (cerejeiras) (o forte da cereja é o concelho aqui ao lado, Resende, já na margem esquerda do rio Douro, distrito de Viseu)... No passado, a Quinta de Candoz mandava muitos cestos de cerejas para o Porto, através do comboio da linha do Douro (que tem aqui, perto de nós, a estação do Juncal, outrora animada e florescente)... 

Por altura da Páscoa, as "cerdeiras"  são sempre deslumbrantes, quando estão floridas...  As "cerdeiras" e outras árvores de fruto... Mas também os carvalhos, que começam a ganhar folhagem... E as videiras, com os seus primeiros rebentos... 

E encantatória, mágica,  é sempre a água que vem, aos borbotões,  das nossas minas, ainda pura e fresca... Que pena não a podermos reter toda aqui... Vai ter à albufeira do Carrapatelo e, por fim, ao mar...

Aqui fica uma pouca amostra da "sagração da primavera" em Candoz, com votos de Boa Páscoa para todos os nossos leitores.  

Para nós, este vai ser um fim de semana muito especial, em que recordamos a "partida" da nossa querida Nita, Ana Carneiro (1947-2023) e, em sua homenagem, vamos lançar um vinho verde branco, com o seu "petit-nom"no rótulo, "Nita", uma edição especial, seleção 2023, 13º graus. Pela primeira vez  reunimos as condições tecnológicas e o apoio de enólogo para fazer um vinho que nos orgulha, que tem cheiros e sabores a "chá verde, espargos e flor de magnólia"... E que tem muita da alma, do perfume, da essência da nossa Nita, das suas memórias, vivências e referèncias.  Foi ela  que nos inspirou e reforçou a nossa vontade de manter vivo  o espírito de Candoz.


01 março 2024

Parabéns, Gusto,. pelos teus 77

 Sete sete, capicua,

Das sete que já viveste,

Uma medalha bem tua,

Que tu bem a mereceste.


Para trás fica a estrada,

Bela mas dura da vida,

E a  saudade magoada

Da tua Nita querida.


Boa colheita, os três,

Tu o mais novo de nós,

Portuense, pooirtuguês.

Hás de ser conde ... de Candoz.


Com filhos maravilhosos,

Netos que são um encanto,

Mais amigos amorosos,

Chegarás aos cento.. e tanto,


1 de março de 2024

Do Luís, Alice e do resto da malta de Lisboa

04 fevereiro 2024

As nossas comidinhas: o arroz de sentieiros...










Tabanca de Candoz > 30 de outubro de 2019 > Os "santieiros" e o arrozinho do nosso contentamento... 

Vêm as primeiras chuvas e "eles", os cogumelos,  surgem, da noite para o dia, no fundo da terra, junto aos castanheiros e aos carvalhos... Estes foram os primeiros cogumelos comestíveis daquele  ano... E depois veio o raio da pandemia, em meados de março de 2020...

O ano de 2023 não pareceu ter sido grande ano para os nossos cogumelos, que o Zé adora...mas que não encontrou

Aqui dizem-se "sentieiros"é um regionalismo... 

É um cogumelo comestível [Macrolepiota procera], com chapéu com 10 a 30 centímetros, muito apreciado na região de Entre Douro e Minho... Na região Centro, chamam-lhe "frade"... 

Atenção: há o "frade" comestível [Macrolepiota procera] e o falso "frade", venenoso [Macrolepiota venenata]...

Também se comem... (i) fritos com cebola; ou (ii) assados na brasa, só com uma "pedrinha de sal"!... Enfim, sabores da infância, um petisco, de comer e chorar por mais, dizem os tabanqueiros de Candoz.

O nosso amigo Rui Chamusco, porfessor de música na Lourinhã, que é nado e criado na serra da Malcata, concelho de Sabugal , goza com os nossos  "sentieiros"... Isso é não coisa "gourmet"... Ele é especialista, campeão em apanhá-los e cozinhá-los... Conhece dezenas de espécies...

Enfim, o Rui é um senhor... micologista!...E o Sabugal é uma das melhores regiões do país para cogumelos... Temos que lé ir aprender com eles:
 
https://www.cm-sabugal.pt/cogumelos-do-coa/


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



15 janeiro 2024

Faria hoje 77 anos a nossa Nita|...Recordamo-la com doce saudade







Quinta de Candoz > Verão de 2022 > Talvez agostou setembro, antes das vindimas> Nita: As últimas fotos que aqui te tirámos...
Fotos: Luís Graça (2022)

 

Querida Nita:

És de todos nós quem tem mais referências no blogue A Nossa Quinta de Candoz, criado em 7 de abril de 1999 para celebrar a inauguração da nossa casa comum… São cerca de meia centena essas referências…

Foi um dia de grande alegria, esse 7 de abril de 1999, e daí nasceu o “Álbum da Família Carneiro e História de Quinta de Candoz”, inspirado num sonho da Chita (“Eu sonhei com rosas brancas / Que vieram do Além; /De todas as almas santas / Só pode ser nossa mãe”).

Não tinha mais nenhum propósito, o blogue e o álbum,  senão o de nos manter unidos, mesmo à distância, e ajudar-nos, uns aos outros, nos bons e nos maus momentos da vida, celebrando a amizade e a fraternidade de Candoz.

Revisitando o blogue, vejo que os versos mais antigos que te dedicámos, foram os dos teus “60 verdes anos”, em 15 de janeiro de 2007… Já lá vão 17, querida Nita!!!...

Deu-nos uma imensa saudade, ao relermos essa pequena homenagem que te fizemos, em singelas quadras populares, pondo na tua boca a tua própria narrativa autobiográfica… Estás lá, inteira e justa, nesse quadro que te fizemos: em 2007, ainda não estavas à beira de te reformar, faltavam quatro anos; tinhas brio e consciência do teu valor profissional; eras de um dedicação extrema ao teu instituto e ao teu laboratório;  não tinhas ainda netos, mas “sabias” que eles haveriam de chegar: enfim, fazíamos férias juntos, viajávamos juntos, acompanhávamos o crescimento  e a formação dos teus filhos (e dos seus primos)…

Foi, de facto, uma época bonita, estávamos vivos e tínhamos saúde e esperança no futuro. E tu tornaste, com todo o mérito, pela tua generosidade, dedicação, trabalho e amor à família, a “rainha de Candoz”… Nunca tiveste trono, mas hoje tens um pequeno altar, um oratório, onde rezamos por ti e falamos contigo…

Hoje farias 77 anos, uma das capicuas que a crueldade do destino te roubou… A gente bem queria, Nita, estar aí hoje contigo, beijar-te a abraçar-te e fazer uma festinha à nossa maneira, na tua casa da Madalena, na sala onde vivemos tantos momentos bonitos (Natais, Páscoas e outras festas) e que o teu Gustito já teria aquecido logo de manhã cedo…

Resta-nos a doce saudade da tua presença, sempre luminosa, feliz, alegre, e a certeza de que a tua memória nos dá forças, a todos nós, para continuarmos juntos.

Aqui ficam então  os versinhos de há 17 anos:

___________

Para a Nitas,

  • a futura avó,
  • a mulher prendada,
  • a esposa querida,
  • a mãe babada,
  • a irmã cúmplice,
  • a cunhada terna,
  • a tia meiga e solícita

... que hoje faz 60 anos!

 


Que a tua estrada da vida seja longa,
e feliz seja a jornada.
Que vás com Deus! (... e connosco).

Alice, Luís, Joana e João | Alfragide, 15 de Janeiro de 2007


Parabéns a Você !


Nasci em quarenta e sete
Do louco século passado,
Sou do tempo da Internet
E do circuito integrado.

Fui à Lua, fui a Marte,
Graças à televisão,
No meu tempo era arte
Seduzir um bonitão.

De família numerosa,
Fui a menina prendada,
Ajudei a mana Rosa,
P’ra poder ser diplomada.

Meu pai, quero ir estudar
Para o Porto, p’ra cidade,
E lá poderei casar
Em chegando a idade.

À família fiz um hino,
Sendo a coisa mais querida,
Não me queixo do destino
Nem das agruras da vida.

Com um sorriso para todos,
Sou uma mulher de trabalho,
Uso sempre de bons modos,
Mesmo quando vos ralho.

É pesada esta carga
Para uma mulher pequenina,
Pode às vezes ser amarga,
P’ra um coração de menina.

Se há na terra um purgatório
É o sítio onde trabalho,
É no meu laboratório
Que provo o quanto valho.

Não me bato ao ‘Excelente’
Por vaidade ou presunção,
Que a minha obra não mente
Na hora da avaliação.

E lá por fazer sessenta,
Não pensem que arrumo a bata,
O coração ainda aguenta
E de vocês não estou farta.

Saúde para o meu Gusto,
Pr’os meus filhos, alegria,
É o voto ardente e justo
Que faço neste meu dia.

Eles são a melhor prenda
Que a vida me podia dar,
Dou-me a Deus em oferenda,
Vou com Deus continuar.

E p’ro resto do caminho
Virão netos, com certeza,
Alegrar o meu cantinho,
Enchê-lo de mais riqueza.


https://anossaquintadecandoz.blogspot.com/2007/01/para-nitas-futura-av-mulher-prendada.html

23 dezembro 2023

No Natal de 2023: lembrando com (e)terna saudade aquela que, durante 40 anos, foi a rainha de Candoz (e da Madalena)


Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz> Quinta de Candoz > 23 de dezembro de 2023 > Uma "aguarela" natalícia... Foto: LG (2023)



Querida Nita:


Não imaginas a surpresa que te fizemos hoje!...

Amanhã não haverá ceia de Natal na Madalena,

Mas hoje estamos aqui reunidos em Candoz

Para te lembrar, e lembrar aos mais novos,

Que tu aqui foste a Rainha,

E que continuas a ser a Rainha,

Mesmo quando te queixavas

Que vinhas sozinha, com o teu Gusto,

Trabalhar que nem uma moira,

E mesmo já doente,

…Mas sempre com o teu sorriso lindo no rosto sofrido.



Nitas, ainda não chorámos todas as lágrimas,

Nem nunca choraremos todas as lágrimas por ti,

E já se passaram nove meses

Desde que em 24 de março nos deixaste,

Desamparados, órfãos, devastados, inconformados…


Resta-nos, Nita, a imensa saudade, a tua memória,

Que queremos manter viva.

Por isso estamos aqui, hoje, dia 23 de dezembro,

Em dia de trabalho, em Candoz,

Mas também para celebrar o nosso Natal

Em comunhão espiritual contigo.

É também a nossa maneira de continuar a fazer 

O tão difícil luto pela tua perda.


Era o Natal, a quadra festiva do ano

Que tu mais adoravas, mais do que a Páscoa!

Querias ter todo o mundo em Candoz e na Madalena,

A começar pelo teu Gustito,

Os teus filhos Filipe e Tiago,

As tuas noras, os Susana e Sofia,

Os teus netos, a Carolina e o João…

A Alice e o Luís vinham de Lisboa,

O Zé Soares e a Berta moravam ao teu lado,

E os teus manos, Tó, Rosa, Manel e Zé,

Também não estavam longe,

Estávamos todos vivos, e de razoável saúde, 

E visitávamo-nos alegremente uns aos outros.

O Zé trazia as pencas, na véspera,

E enchia a tua casa de ruidosa alegria,

A Alice encarregava-se do lume,

E dos panelões onde, na garagem,

Se coziam, carinhosamente,

As batatas, as pencas, o bacalhau lascudo.

Tu punhas o teu maior esmero, capricho e arte

Na feitura dos doces,

E nos arranjos da sala e das mesas…,

E nas boas-vindas aos convivas…

Nunca faltavam os bolinhos de “corn-flakes”

A aletria quentinha, o arroz doce, o leite creme,

E as rabanadas, que eram tarefa da Berta…

Este ano faltas tu, pela primeira vez,

E falta também o Zé Soares,

Nas nossas vidas, no nosso Natal.



Este ano não há mais freima de Natal para ti!

Mas fizemos questão, todos aqueles e aquelas

Que te amaram e continuam a amar,

De nos sentarmo-nos à grande mesa mesa em L,

À hora do almoço, depois do trabalho da poda,

Para te dizer que o espírito de Candoz,

Que tu sempre viveste e representaste como ninguém,

Ao longo de quase quatro décadas,

Continua vivo e a inspirar a geração seguinte

Dos nossos filhos e sobrinhos.



Nita, podes continuar a ter orgulho

No teu Gusto, nos teus filhos, nos teus sobrinhos,

Em todos nós que aqui estamos:

Enquanto ainda secamos as lágrimas,

E suspiramos por ti,

Prometemos também nunca te esquecer

E manter vivo o teu testemunho, o teu exemplo de vida,

Tu sempre personificaste o dom,

A doçura, o prazer e a alegria de dar e receber.

Temos uma bela surpresa para ti 

No próximo dia 24 de março de 2024.

Até lá reza por nós!  E protege-nos!

E, em nosso nome, deseja 

A todos aqueles, homens e mulheres, que foram das tuas relações,

Um Bom Natal de 2023 e um Melhor Ano Novo de 2024

Quinta de Candoz, 23 de dezembro de 2023,

Os presentes:

Gusto, Filipe, Tiago,Suzana,Sofia,Carolina e João;

Alice e Luís;

Zé, Pedro, Adriano;

Zezinha, Eduardo, João, Mara, Catarina, Marcelo e Manel;

Cristina,Miguel,Francisco;

Miguel, Daniela, Clara.



02 novembro 2023

Miguel Soares (1973-2020): três anos de saudade


Espanha, Santiago de Compostela > 11/06/2016 > Da esquerda para a direita, Miguel, Berta (mãe), Sandra (irmã) e Zé Soares (pai)



 Espanha, La Toja >  10/06/2016 em La > O Miguel, à esquerda com os pais e a irmã. Se fosse, teria efeito 50 an0s, em 6 de setembro. Nasceu em 1973. E lutou 3 anos contra a doença que o vitimou. É justo recordá-lo no nosso blogue, que é de toda a nossa família alargada. 

Fotos do álbum da Sandra (2023)



In Memoriam, Miguel Soares!


Queridos Zé, Berta, Sandrinha, Rui, Maria, Gusto, Nitas:

Acabam de perder um filho, um irmão, um pai, um sobrinho. Não há dor maior do que essa. É uma parte de vós que a morte vos rouba. E vão passar a ficar amputados, para sempe, dessa parte de vós. O Miguel, filho, irmão, pai, sobrinho, era essa parte de vós.

Nada será como dantes. Há o antes e depois. Quando a morte nos bate à porta, é para entrar e levar um de nós. É a tragédia que se abate sobre a família. Tudo foi tentado para arrebatar o Miguel das garras da morte. Ela foi mais forte que a medicina, a ciência, o IPO, os profissionais de saúde que o trataram, e aqueles que rezaram por ele, que cuidaram dele, que foram seus amigos. 

 Foi um duro combate, e nós somos testemunha, à distância, é verdade, dessa luta desigual, em que o Miguel foi um herói. Ficará para sempre, na nossa memória, o seu sorriso, bonito, penoso é certo, mas ainda esperançoso, quando o abraçámos pela última vez, na vossa casa, em fevereiro passado.

O Miguel foi aquele menino que vimos crescer e fazer-se homem e tornar-se pai, ao longo dos mais de 40 anos que já levam o nosso convívio com a vossa família, no Porto e na Madalena. Não o vamos ver mais à mesa, na festa de Natal, mas no próximo, se nós lá chegarmos, e se nós pudermos passá-lo convosco, aí na Madalena, vamos pôr o seu lugar à mesa, em lugar de honra.

E há um difícil luto a fazer. Mas que tem de ser feito. Para que o Miguel fique, em paz, na vossa e na nossa memória como filho, irmão, pai, sobrinho, primo, companheiro, amigo. O Miguel foi um exemplo, nobre, estoico, de resiliência, de resistência e de dignidade na doença, na dor e na morte.

Infelizmente, ele parte para a sua última viagem ainda em plena pandemia de COVID-19 quando não nos é possível estarmos todos juntos para o último adeus, e darmo-nos conforto uns aos outros através dos nossos beijos e abraços. 

Mas as palavras que nos enviamos levam todo o calor humano e toda a solidariedade na dor que, à distância, conseguimos exprimir, ainda sob o choque da notícia da sua morte, já pressentida mas temida. Nunca estamos preparados para este momento terrível das nossas vidas, que é a notícia da morte daqueles que amamos.

Vamos recordar o Miguel como um homem bom, um filho, um irmão, um sobrinho, um pai, um amigo, que tinha ainda meio caminho da vida para fazer, com muitos sonhos e projetos, e sobretudo com todo o direito a ver a sua querida Maria a crescer e a tornar-se uma grande mulher.

Vocês sofreram muito com a sua doença. E estão a sofrer com o seu desaparecimento físico. E os próximos tempos vão ser de um grande vazio. Nada trará, porém, o Miguel de volta, a não ser as boas memórias que temos dele, desde menino. É já grande a saudade que temos dele.

Vamos continuar a falar do Miguel, como se ele continuasse a conviver connosco e a falar connosco, com aquela serenidade reservada mas sempre cordial com que ele gostava de estar em grupo. Faz-nos bem falar com os nossos queridos mortos. O Miguel vai continuar a fazer parte do circulo íntimo da família e dos amigos.

Até sempre, querido Miguel!

Luís e Alice (, com um chicoração muito terno também do João e da Joana, que estão em Lisboa)

Lourinhã, 27 de maio de 2020

01 novembro 2023

José Soares (1945-2023): dois meses de saudade (Sandra)


O Zé Soares e a família, no Alqueva no dia 9 Abril 2022 ( dia em que a filha, Sandra, enfermeira, fazia 50 anos)



Praga, República Checa, 8 de setembro de 2022: uma "selfie", da esquerda para a direita, Berta, Zé Sandra e Rui


Porto, Faculdade de Economia, 1 de maio de 2022, no dia da festa da formatura da neta, Leonor, ou festa de finalistas. Da esquerda para a direita, o Rui, o João, a Leonor, o Zé, a Berta e a Sandra


Maia, na casa da Sandra e do Rui, Noite de Consoada, 24 de dezembro de 2021: O Zé Soares, com a esposa, Berta, a filha Sandra e os netos Nonô (Leonor) e João


1. Palavras ditas na missa de corpo presente do José Soares (1945-2023), no 2 de setembro de 2023, na igreja paroquial da Boavista, Porto

Pai,


O dia que sempre temi, chegou...

Tive sempre receio deste momento... quando tomei conhecimento do diagnóstico da tua doença,  procurei preparar-me para um desfecho doloroso de imaginar e muito difícil de aceitar.

Encontrei algum consolo em recordar como foste um excelente pai, marido, avô, irmão, cunhado, sogro, amigo e colega. 

Estiveste sempre presente e disponível para todos nós.  O meu/ nosso muito obrigada por tudo quanto fizeste por todos.

Nestes últimos meses tudo foi feito para te acompanhar e proporcionar o conforto possível num contexto de sofrimento.

Embora sabendo que tinhas momentos de dor e de incerteza quanto ao futuro, ainda assim, gostaríamos de ter-te junto a nós durante mais tempo.

Espero que, onde quer que estejas, possas estar em Paz e que sejas mais uma estrelinha no céu a olhar por nós. Em noites de céu estrelado olharei para o céu para te ver a ti e ao Miguel. Estarão os dois juntos até ao dia em que todos nós nos voltarmos a encontrar.

Até sempre meu pai.

Sandra, em nome de toda a família, Berta, Rui, Leonor e João


24 outubro 2023

Nitas (1947-203): 7 meses de saudade (Chita)

 


Nitas, na praia de Azenhas do Mar, Sintra, ao pòr do sol, o último do ano, 31 de dezembro  de 2018

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição:  Blogue A Nossa Quinta de Candoz]



Nitas, minha querida mana:

É dia 24.  Faz 7 meses que partiste.

Não tenho (nem preciso de ter) o teu código postal. Falo diretamente contigo, quase todos os dias. Mas tu nem sempre me respondes. Aliás, estás quase sempre calada. E eu tenho tanta necessidade de te ouvir. De falar contigo e de te ouvir. E para mais agora que está a chegar o inverno…  

Sinto a tua falta: sem ti, sem o toque do teu telelelé, sem as fotos que me mandavas, ou  sem as nossas videochamadas que fazíamos, estou mais só… Fazes-me muita falta. Não quero ser egoísta. Fazes falta a todos nós… E isso só quer dizer que te amávamos muito. Nós e os teus amigos que te continuam a recordar com muita saudade.

Eu insisto em dizer à Clarinha que “a tia Nitas foi para a estrelinha”… E eu própria já me convenci de que tu tens, afinal, todo o céu por tua conta. 

Fico mais calma quando à noite vejo o céu estrelado, e posso contar as tuas estrelinhas… Numa interminável viagem pelo universo, todas as estrelas são tuas. Escolho sempre algumas mais especiais. 

Preciso dessa magia, Mana. Boa noite, acho que hoje vou dormir melhor depois de “falar contigo”…

Tua Chita, Alfragide, 24 de outubro de 2023

 _______________

Poema dedicado a minha querida e saudosa Maninha que faz hoje 7 meses que partiu. São tantas as saudades que me deixa sem chão!!!

Um poema de Ana Luísa Amaral que também já não está entre nós. Duas mulheres fortes do Norte que quero homenagiar.


Um Céu e Nada Mais


Um céu e nada mais — que só um temos,
como neste sistema: só um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul — como de tecto.
E o seu número tal, que deslumbrados
eram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tão de ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levíssimo toque de mistério.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovão que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caído.
Mas, de verdade: natural fenómeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
implodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais — que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em alto
risco), e a dança no trapézio
proibido, sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.


Ana Luísa Amaral (1956-2022)
 in “Às Vezes o Paraíso” ( Quetzal, 1998; reed. 2000)
 (com a devida vénia...)

24 setembro 2023

A alegria das vindimas de 2023, e a saudade da nossa Nita que partiu há seis meses

 


Quinta de Candoz > Vindimas  > 18 de setembro de 2020 > A Nita(s), a Mi (cunhada) e a Chita (Alice, irmã). Foto: LG (2020).


Querida mana Nita(s):

Fui fazer as três vindimas,  estive 18 dias em Candoz. Também estive a representar-te.  Sentia-se a tua presença tutelar.  Tu agora és a nossa "fada madrinha", como diria a ,minha Clarinhya.  Ontem andávamos todos felizes a vindimar, logo cedo, pela manhã (foi a última vindima).

Já sabes, por certo, do novo projeto a que metemos ombros em Candoz. O teu Tiago já “te falou” da ideia, linda,  que ele teve em mente para te homenagear através do vinho de Candoz. Não vou entrar em pormenores,  sem autorização do Tiago, porque “o segredo é a alma do negócio”…

Este ano tivemos uma boa colheita, em quantidade e qualidade,  mesmo sendo um ano complicado por tudo: as pragas do costume, mais o “black rot” (ou “podridão negra”), e a pior de todas, a tua partida!

Gostaste, por certo, de ver os teus filhos, todos entusiasmados a vindimar… Eu gostei muito . Então, o teu Tiago, vestido à camponesa!…

Vim ontem de Candoz, ao fim da tarde, direitinha à Lourinhã, foram quase 350 km, em três horas e meia… Vim cansada mas feliz por sentir,  ver e partilhar a alegria de todos, dos teus filhos Tiago e Filipe, do teu homem, o Gustito, do meu Luís (de máquina fotográfica em punho),  da tua neta Carolina,  do nosso mano Zé, dos teus sobrinhos, Zezinha, Eduardo, João, Diogo e  Francisco, além do nosso companheiro e amigo de muitos anos, o Adriano…

Tivemos a mesa cheia, como de costume. Até a Berta veio da Madalena com a Sofia e o teu Joquinhas…

Não posso deixar de deitar mais uma das  lágrimas que me restam,  pela tua partida, faz hoje justamente seis meses. Tantas coisas que ainda queríamos poder fazer juntas em Candoz!...

A vida (a vida, não, a morte!) pregou-nos a grande partida de te levar, sem sequer nos pedir licença!... Que crueldade, mana!... Ainda hoje não me conformo nem consegui fazer o luto!

Mas quero que saibas que continuamos falar contigo e a pôr uma florinha no cantinho da sala onde está o teu  retrato, tirado nas vindimas de há três anos.  Com o teu sorriso lindo, que nos encantava a todos/as!

A tua mana Chita.

Lourinhã, 24 de setembro de 2023.

 

11 setembro 2023

Vindimas de 2023: um cacho de uvas douradas e uma romã para a nossa querida Nita(s), com a nossa (e)terna saudade

 

Foto nº 1 > Quinta de Candoz >  Vindimas  > 18 de setembro de 2020 > A Nita(s), Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 1947 - Porto, 2023) (*)

Foto nº 2 > Quinta de Candoz > Vindimas  > 18 de setembro de 2020 > A Nita(s), a Mi (cunhada) e a Chita (Alice, irmã)

Foto nº 3 > Quinta de Candoz >  Vindimas  >  9 de setembro de 2023 > Um cacho de uvas douradas (1)...



Foto nº 4 > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > Um cacho de uvas douradas (2)...



Foto nº 5 > Quinta de Candoz >  Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > Os cachos  (arinto / pederná) que a Nita(s) adorava apanhar...


Foto nº 6 > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 >  A primeira de três vindimas...Este ano começou a vondimar-se mais cedo... Veio gente da Lourinhã, do Porto e de Matosinhos..., para dar uma mãozinha.


Foto nº 7 > Quinta de Candoz >  Vindimas  > 9 de setembro de 2023 >  A primeira de três vindima...Veio gente da Lourinhã, do Porto e de Matosinhos... Filhos, sobrinhos/as, sobrinhos-netos...


Foto nº 8 > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 >   Antigamente acarretava-se os "cestos de vime" às costas até ao lagar... Hoje, felizmente, o trator alivia-nos as costas...


Foto nº 9 > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 >   Tud0 gente da casa, da 2ª e 3ª geração...



Foto nº 10  > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > Cestos (de plástico...) cheios de uvas de castas (loureiro, avesso, algum alvarinho...),  que amadurecem mais cedo...



Foto nº 11 > Quinta de Candoz > Vindimas > 9 de setembro de 2023 > A "romãzeira da tia Nita(s)", na borda de um dos nossos campos... (Nome científico: Punica granatum)... Na foto, o nosso querido e inestimável Adriano.



Foto nº 12  > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > As primeiras romãs maduras para a "tia Nita(s)"


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Queridos amigos,  deixem-me falar de outra das minhas geografias emocionais, que é Candoz, a Quinta de Candoz, ou Tabanca de Candoz, como eu também gosto de lhe chamar (falando para os leitores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné). 

Há quase meio século, desde 1975, que venho aqui, à casa  e à terra onde nasceu a mãe dos meus filhos. Por herança (e opção), somos sócios da Sociedade Agrícola de Candoz (unipessoal).  Havia momentos especiais do ano, festivos, em que não podíamos faltar: o Natal,  a Páscoa, as vindimas... Mesmo estando longe, a 350 km de distância, eu, a Alice, os nossos filhos, procuramos estar aqui em Candoz nessas datas...

As vindimas são um momento mágico e agregador das famílias que nasceram no campo e sempre conviveram com a terra e a vinha. Mesmo quando se partia para a cidade (Porto, Lisboa) e depois para o Brasil, a França e a guerra em África, Moçambique e Angola (como foi o caso dos très rapazes da família),  quem podia vir, vinha dar uma ajuda,  quem não podia vir, escrevia cartas ou aerogramas cheios de saudade...  

Dos seis filhos do casal José Carneiro e Maria Ferreira, quatro (três raparigas e um rapaz) decidiram constituir , nos anos 80, a Sociedade Agrícola de Candoz (unipessoal) e construir uma vinha inteiramente nova, nos solcalcos roubados ao longo dos séculos à floresta de carvalhos e castanheiros,  sustentados por grossos muros de pedra, e que estão na família Ferreira e depois Ferreira Carneiro desde pelo menos os primeiros decénios do séc. XIX. 

Era uma pequena exploração familiar projetada, há 40 anos, para produzir no máximo 20 pipas (c. 15 toneladas de uvas),  de vinho verde branco, das castas arinto/pedernã e azal (maioritariamente, mas também com videiras  de loureiro, alvarinho e avesso), a uma cota entre os 250 e 0s 300 metros acima do nível do mar.

Durante estes anos todos a nossa Nita (para o marido e os filhos) ou Nitas, "tia Nitas" (para os restantes familiares e amigos) foi a "alma" desta pequena comnunidade. A morte, traiçoeira, levou-a aos 76 anos, depois de trabalhar uma vida inteira como engenheira química no laboratório do Departamento de Engenharia Química do ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto (*)

Este é o primeiro ano em que fazemos a vindima sem a sua presença física. (Também a morte levou,  há uma semana atrás, outro familiar e amigo de Candoz, o José Soares, presença habitual nas nossas vindimas, ele e a sua esposa, a Berta.)

Nas duas primeiras fotos acima, de 18 de setembro de 2020, a Nita(s) já sabia o diagnóstico da doença que a haveria de matar, e a que não teria sido alheia a exposição profissional a substàncias cancerígenas no seu laboratório.  Estóica e digna na doença, e ainda em tempo de pandemia de Covid-19, a Nita(s) não deixava de nos brindar com o seu sorriso luminoso, a sua gentileza, a sua fotogenia, o seu carinho , a ternura, o amor, o desvelo, a entrega, a generosidade e a alegria que sempre pôs em tudo o que fazia, bem como nas relações que mantinha com  os outros. 

Foi fada e rainha deste lar.

Estas primeiras fotos da primeira vindima de 2023 (vamos fazer três, e no próximo fim de semana a maior) é dedicada à nossa querida Nita(s), figura tutelar da nossa Quinta de Candoz. Para ela vai um cacho de uvas douradas e a primeira romã madura que colhemos da sua romãzeira.

Luís Graça (2023) (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 26 de março de 2023  > Guiné 61/74 - P24170 : Manuscrito(s) (Luís Graça) (219): Na despedida da Terra da Alegria: à minha querida 'mana' Nitas, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 1947 - Porto, 2023)

(**) Último poste desta série, publicado no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné >  18 de agosto de  2023 > Guiné 61/74 - P24564: Manuscrito(s) (Luís Graça) (227) : Chita... Não vale a pena parar, / A vida é p’ra se viver, / Com momentos p’ra sofrer, / É tudo sempre a somar.