07 abril 1999

7 de abril de 1999: Os versos da inauguração: Eu sonhei com rosas brancas...

























Os sócios fundadores deste turismo rural, para uns, e exploração agrícola, para outros, são: Rosinha (e Quim), Chita (e Luís), Nitas (e Gusto), Zé (e Teresa).

Elas e ele (o Zé) é que são... Carneiro.
Todos vivem no Porto, excepto a Chita e o Luís (que estão em Lisboa).

Candoz fica na freguesia de Paredes de Viadores, concelho do Marco de Canavezes, a 3/4 de hora do Porto.

A linha (de caminho de ferro) do Douro e o Rio Douro (Porto Antigo, a barragem do Carrapatelo) ficam ao fundo.

À nossa direita, Cinfães e a Serra de Montemuro.

São terras de antanho, roubadas à floresta de carvalho e de castanheiro. Terras de muros e de socalcos, terras de sangue, suor e lágrimas, terras de entre Douro e Minho...

Eça de Queiroz inspirou-se nesta paisagem sublime para escrever a cidade e as serras.

Estamos mesmo no limite do concelho do Marco e no início do de Baião.

Vemo-nos muitas vezes, ao longo do ano. Os sócios e respectivos apêndices mais a numerosa prole e o resto da família que não é sócia (o António e a Graça, o Manel e a Maria), não esquecendo o Adriano que não sendo da família directa dos sócios (é cunhado por afinidade de uma futura herdeira - Zezinha) moureja , com os sócios trabalhadores, todos os sábados nesta "Nossa Quinta de Candoz" com verdadeiro espirito de paixão e amizade, para que ela se mantenha limpa, visitável e produtiva.

Mas este blogue também pode ser um ponto de encontro entre todos nós, os nossos descendentes, parentes e amigos, que todos juntos são mais do que muitos...


Nota - Alguns dos versos originais deste album, escritos e ditos num contexto festivo, no meio de gente nortenha, pura, chã, mas também alegre e brejeira, foram ligeiramente modificados para não ferir... as susceptibilidades dos nossos amigos e visitantes.








I Parte > Loas a Candoz e à família Carneiro, no dia da inauguração da nossa casa (1999)


1
Eu sonhei com rosas brancas
Que vieram do além;
De todas as almas santas
Só pode ser nossa mãe.

2
Só pode ser nossa mãe
A querer falar com nós,
Por isso ela também
‘Tá aqui hoje em Candoz.

3
‘Tá aqui hoje em Candoz
P’ra perfumar toda a terra,
Do Campo até Leiroz,
Gente de paz, não de guerra.


















4
Gente de paz, não de guerra,
Todos hoje aqui ‘stão,
Os de fora e os da terra,
P’rá nos’ inauguração.

5
P’rá nos’ inauguração
Da sede da sociedade
Que é mais do qu’ uma nação,
É uma bela irmandade.



















6
É uma bela irmandade
De manos e de cunhados;
Exemplo de humildade
P'ra ricos e remediados.


7
P’ra ricos e remediados,
Qu’ eles pobres todos são;
Às vezes andam zangados
Mas pelo dinheiro, não!

8
Mas pelo dinheiro, não,
Qu’é coisa que não herdaram;
Do Sã’ Miguel ao Sã’ J’ão,
Trabalhos nunca faltaram.





















9
Trabalhos nunca faltaram
A quem é trabalhador,
E todos aqui estudaram
A lição do lavrador.

10
A lição do lavrador
Que foi o José Carneiro,
Fidalgo e grande senhor,
Mesmo sendo ramadeiro.


11
Mesmo sendo ramadeiro,
Tinha à terra grande amor;
De águas foi engenheiro
E de casas construtor.























12
E de casas construtor,
Só não foi alambiqueiro,
Muito menos malfeitor,
O senhor José Carneiro.

13
O senhor José Carneiro
Há-de aqui também morar,
Tem um quarto no palheiro
Que mandou edificar.


14
Que mandou edificar
Ao arquitecto Soares,
Casado neste lugar
E pessoa de bons ares.

15
E pessoa de bons ares
Também é o nosso Quim;
Condição p’rá aqui ficares
É dizer: - Amen, Atchim!...

















16
É dizer: - Amen, Atchim!...,
Que no tempo do major
A vida não era assim,
Era tudo bem pior.


17
Era tudo bem pior,
A sardinha para três,
O melhor para o senhor,
Foi assim que Deus nos fez.


18
Foi assim que Deus nos fez,
Com um bocado de bosta,
Mas o sangue é português,
Aqui tens tu a resposta.


19
Aqui tens tu a resposta:
Três filhas para casar,
Delas se gosta ou não gosta,
Não é pegar ou largar.















20
Não é pegar ou largar,
Qu’a Rosa tem pretendente:
Nem fidalgo nem m’litar,
Um filho de boa gente.


















21
Um filho de boa gente
E melhor apessoado,
Quero um de sangue quente
Para ser meu namorado.


22
Para ser meu namorado,
E livrar-me d’algum susto,
Quero um bem penteado
E que se chame Augusto.

















23
E que se chame Augusto,
E me jure amor eterno;
Com homem bondoso e justo,
Casório não é inferno.


24
Casório não é inferno,
Diz o Zé para a Teresa;
Em chegando o inverno,
Era farta a nossa mesa.


25
Era farta a nossa mesa,
Na nossa q’rida casinha,
Pão e vinho à sobremesa
Enchiam a barriguinha.


26
Enchiam a barriguinha
Até nos dar caganeira:
Um dia veio a vizinha
Acudir à bebedeira.

















27
Acudir à bebedeira
Que nós os três apanhámos:
A fome é má conselheira,
De bagaço nos fartámos.


28
De bagaço nos fartámos,
Ensopado em pão de milho;
O açúcar vomitámos,
Foi mesmo um grande sarilho.



















29
Foi mesmo um grande sarilho
A decisão do Manel:
- Pai, quero ser andarilho,
Vou p’ró Porto sem farnel.


30
Vou p’ró Porto sem farnel
À procura de um emprego,
De meu só tenho este anel
Qu’ao chegar vou pôr no prego.


31
Qu’ao chegar vou pôr no prego,
Não sou filho de brasileiro;
Lavoura é só carrego,
É penar o dia inteiro.


32
É penar o dia inteiro
E gemer muito baixinho,
Nem mesmo filho herdeiro
Vale o peso de um tourinho.


















33
Vale o peso de um tourinho,
Qu’eu só quero a bicicleta,
Não é muito, é poucochinho,
Não me acuse de pateta.


34
Não me acuse de pateta:
Se o sonho são ilusões,
Serei fidalgo da treta
Nas festas e procissões.


35
Nas festas e procissões
Não falhava noss’Alice,
Namorados aos montões
Que até era uma chatice.

















36
Que até era uma chatice
A vida que se levava:
Cortar erva e beatice
Era tudo o que restava.


37
Era tudo o que restava
Da noss’alegre infância;
Se o António emigrava
Não era só por ganância.
















38
Não era só por ganância
Que se ia p’ró Brasil:
Bem sofrida era a distância,
Quer d’um filho quer de mil.


39
Quer d’um filho quer de mil,
Pois já parte p’ra Angola
O nosso Zé, com um fusil,
Que a guerra é noss’ escola.


















40
Que a guerra é noss’ escola,
Não pregava o Padre Mário:
- Aos ricos não se dá esmola,
Não façam tudo ao contrário!


41
Não façam tudo ao contrário,
Mandem um aerograma
Ao pobre legionário
Que no capim faz a cama.

















42
Que no capim faz a cama,
Às caboclas e mulatas:
Foge António, sem pijama,
Nem dinheiro pr’às beatas.


43
Nem dinheiro pr’às beatas,
Nem roupa pr’à invernia:
Quim, inventor das batatas
E fidalgo por um dia.















44
E fidalgo por um dia,
Morgado da casa nova:
Ora viva a folia,
Qu’a vida acaba na cova!


45
Qu’a vida acaba na cova
E eu não tenho um tostão;
Procuro fidalga nova
A quem vender o brasão.


46
A quem vender o brasão,
Só pode ser ao banqueiro
Do povo e do povão:
A Dona Ana Carneiro.


47
A Dona Ana Carneiro
Deu-nos a inspiração;
E com tão pouco dinheiro
Fizemos o casarão.


48
Fizemos o casarão,
Honrando os nossos pais;
Saiba a jovem geração
Imitar exemplos tais.

















49
Imitar exemplos tais
De amor e de coragem;
Quando se parte do cais
É sempre incerta a viagem.


50
É sempre incerta a viagem
Do nascer até à morte;
Mas se há camaradagem
É entre a gente do norte.


51
É entre a gente do norte
Que se bebe o verde vinho,
Gente de altivo porte
P’ra quem amigo é vizinho.


52
P’ra quem amigo é vizinho
A esta casa é bem-vindo:
Na panela há um caldinho
E à porta gente sorrindo.

















53
E à porta gente sorrindo:
Mesmo em fato de trabalho,
O nosso Zé é o mais lindo,
Não vos manda p’ró c...!


54
Não vos manda p’ró c...,
Não é mouro, é morcão:
Com suor e muito... alho,
Foi o Porto Campeão.


55
Foi o Porto campeão,
Por muito que custe ao Tó:
- Vem daí, fecha o portão,
Não te q’remos triste e só.


56
Não te q’remos triste e só,
Diz o cunhado Augusto:
Sabe de tudo, o doutor,
Do enxerto ao arbusto.


57
Do enxerto ao arbusto,
Ele é mais qu’enciclopédia,
Porém, só a muito custo,
Evitou uma tragédia.



















58
Evitou uma tragédia,
Ao desenhar a lareira;
Ou talvez antes comédia,
Grande borrada ou asneira.


59
Grande borrada ou asneira,
A lareira alentejana:
Em vez de um grande fumeiro,
Saiu um tubo de cana.


60
Saiu um tubo de cana,
À moda da nossa aldeia,
Que isto não é Messejana,
Nem fica bem açoteia.


61
Nem fica bem açoteia
Nem beiral para os pardais,
De críticas estou eu cheia,
P’ra mandar há muitos mais.


62
P’ra mandar há muitos mais
P’ra fazer é que são elas,
Vocês lêem os jornais,
E eu que esfregue as panelas.






















63
E eu que esfregue as panelas,
Já me lixo a trabalhar,
Tantas portas e janelas
E o mais que há p’ra limpar.


64
E o mais que há p’ra limpar,
Diz a Ana, que é a patroa,
A malta toda a borrar,
É só merda, até enjoa.


65
É só merda, até enjoa,
Não me venhas convidar
P’ra dar um salto a Lisboa,
Se eu nem posso respirar.


















66
Se eu nem posso respirar
Nem já ir à Madalena,
Como hei-de governar
Mais um Palácio da Pena ?


67
Mais um Palácio da Pena
Mais um sítio p’ra morar,
Sendo eu mulher pequena,
A rainha vou chegar.

















68
A rainha vou chegar
Deste reino de Candoz.
P’ró verso poder rimar,
... Que se lixem todos vós!


69
Que se lixem todos vós,
É uma força de expressão,
Que os da Quinta de Candoz
São amigos do coração.


















70
São amigos do coração,
E p’ra que a amizade ganhe,
Todos convidados estão
P’ra beber um champanhe.


71
P’ra beber um champanhe
E pr’os amigos saudar:
- Com nós, ninguém se acanhe,
O convite é p’ra voltar!
















Post-scriptum

1
Às três manas e ao mano
Ana, Alice, Rosa e Zé:
Isto levou tanto ano,
Já não nos temos de pé.

2
Já não nos temos de pé,
E já lá se foi a guita:
Falta a piscina, não é ?,
´Tá calado, olha a Chita!


Candoz, 7 de Abril de 1999























Os presentes (por ordem alfabética)

(i) Alice Carneiro (a nossa Chita)

(ii) Ana Carneiro (a nossa Nitas)

(iii) Ana Soares (a sra. Aninhas)

(iv) António Carneiro (o nosso mano mais velho, o nosso , que foi ao Brasil e veio aos vinte e tal anos para ser mobilizado - e ferido - em Moçambique durante a guerra colonial)

(v) António Pinto Soares (o pai Soares, um grande companheiro desta jornada)

(vi) Augusto Soares (o Gusto, que com muito saber e paciência levou o barco a bom termo e salvou, entre muitas coisas, a lareira alentejana)

(vii) Berta Soares (a nossa Bertinha, cunhada da Nitas e do Gusto)

(viii) Joana Carneiro (filha da Alice e do Luís, futura herdeira, continuadora desta aventura)

(ix) João Carneiro (idem, filha da Alice e do Luís)

(x) Joaquim Barbosa (mais conhecido por Quim, o home da Rosa)

(xi) José Carneiro (simplesmente Zé, o nosso )

(xii) José Soares (mano do Gusto, não podia faltar)

(xiii) Luís Graça (que é mouro e tem a mania que sabe fazer versos)

(xiv) Manuel Carneiro (o nosso mano nº 3, a seguir ao Tó e à Rosa; mais que um vizinho, é um amigalhaço e sócio honorário da Quinta de Candoz)

(xv) Miguel Barbosa (futuro herdeiro, filha da Rosa e do Quim)

(xv) Olinda Mesquita (uma nova e preciosa aquisição para a nossa equipa, sendo sogra do Zé)

(xvi) Padre Joaquim Mário, pároco do Padrão da Légua, Matosinhos (que com água benta e palavras santas deixou a nossa casa pronta para o futuro, de pedra e cal; um amigod a família)

(xvii) Rosa Carneiro (a senhora Rosinha, a nossa mãe, já que é a mana mais velha; casada com o Quim)

(xviii) Teresa Mesquita (que promete gora voltar mais vezes a Candoz para não deixar o dormir sozinho)

(xix) Tiago Soares (outro morcão, herdeiro; filho da Nitas e do Gusto)


















Ausentes:

Luís Filipe (outro herdeiro, em viagem por Macau, Hong-Kong, China e outras paragens perigosas; um grande tunante, filho da Nitas e do Gusto);

Zezinha, Natália e Cristina (outras herdeiras,que não puderam estar presentes, filhas da Rosa e do Quim);

Pedro Alexandre (outro herdeiro, filho do Zé)

...Muitos outros e outras;

E os saudosos e eternamente recordados José Carneiro e Maria Ferreira, nossos pais e sogros, a quem prometemos em vida manter sempre acesa a chama do lar, da família e da amizade que nos faz reunir aqui, nesta Quinta de Candoz.



Texto e créditos fotográficos: © Luís Graça (2004 e 2005). Outros créditos fotográficos: © Augusto Pinto Soares (2005)