29 março 2023

Na hora da despedida da Terra da Alegria: homenagem à nossa querida Nitas, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 15 jan 1947 - Porto, 24 mar 2023) - Parte IV (Laura Fonseca, amiga)



Quinta de Candoz  > 28 de julho de 2007 > A Nitas "apanhando um banho de sol". Foto: LG (2007)


Lisboa > Graça > Miradouro de Nossa Senhora do Monte > 21 de janeiro de 2019 > Da esquerda para a direita, Nitas, Alice e Laura. Foto: LG (2019)



Alfragide > Casa dos "man0s" Alice & Luís > 20 de janeiro de 2019 > A Nitas e a Laura. Foto LG (2019)


Quinta de Candoz  > Vindimas > 18 de setembro de 2020 >Da esquerda para a direita, Nitas, Alice e Mi. Foto LG (20020).


Vila Nova de Gaia > 20 de junho de 2019 > Na festa do casamento do Tiago e da Sofia > "Cantarolando o fado"... Da esquerda para a direita: Nitas, Alice e Mi. Foto do álbum de família (com a devida vénioa)


Porto > 18 de abril de 2018 > A Nitas com a neta, Carolina. Foto do álbum de família (com a devida vénia)...


1. Homenagem da amiga pessoal e da família, Laura Fonseca (professora universitária, reformada, Porto) (aqui reproduzida com a devida vénia) (*):

O que sempre vi e retenho da querida Nitas:

Em primeiro lugar, a Nitas era uma mulher intensa e que apreciava a vida vivida com
intensidade:
  • mulher que “da vida não queria só metade”
  • intensa no amor ao seu marido Gusto; aos seus filhos Filipe e Tiago; a sua menina/neta e seu menino/neto; aos seus irmãos e irmãs e sobrinhos; aos seus amigos e colegas;
  • intensa em viver a vida que poderia estar ao seu alcance;
  • intensa na generosidade;
  • intensa no cuidado de si e das suas coisas;
  • intensa no trabalho e no seu lugar profissional;
  • intensa nas relações de amizade;
  • intensa a congregar todos os que viviam à sua volta;
  • intensa na dedicação e no acolhimento;
  • intensa na alegria de viver;
  • intensa nas suas convicções;
  • intensa nos seus afectos

Em segundo lugar, a Nitas:
  • era uma mulher poderosa, concentrada e fazedora;
  • mulher que se mobilizava e sabia bem o que queria para si (e para os seus); 
  • sabia bem onde colocar as suas energias e forças;
  • mulher que tinha a sabedoria de determinar e prosseguir a sua vida;
  • a arte de saber criar o seu bem viver;
  • sabia alimentar as suas forças e convicções;
  • apreciava a festa e sobretudo apreciava fazer a festa;
  • apreciava a música, o canto, as festividades, as viagens…

Em terceiro lugar, a Nitas;
  •  era uma mulher de bem consigo e contaminada pela sua vida;
  • vivia satisfeita, apaziguada e de bem com a sua vida;
  • era uma mulher esmerada e que sabia bem o que valia, o que queria e gostava muito de si assim;
  • apreciava a sua estética, o seu fazer, a sua forma de vida;
  • sabia o que podia exigir de si e por isso desenvolvia e valorizava esse seu potencial.

Em quarto lugar, e por tudo isto, a Nitas era uma mulher inteligente e tinha a SABEDORIA para fazer bem e intensamente tudo o que apreciava. Sentia que tinha consigo e em si o melhor do mundo.

Contigo, Nitas, vivi bons momentos nestes últimos anos de saúde… senti o teu carinho, a partilha do que achavas belo e oportuno.

Tive o aconchego e um lugar à tua mesa e nas tuas casas, apreciava o prazer de te mobilizares para partilhar o que tinhas de melhor.

Pude apreciar os sabores dos teus petiscos e as tuas coisas boa e que fazias menção de partilhar,  senti bem a tua solidariedade e disponibilidade… em momentos difíceis.

Obrigada, sempre… sempre muito obrigada.

Laura Fonseca, Porto, 26 de março de 2023, 15h00

______________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores:

26 de março de 2023 > Na hora da despedida da Terra da Alegria: homenagem à nossa querida Nitas, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 15 jan 1947 - Porto, 24 mar 2023) - Parte I (Luís Graça)

26 de março de 2023 > Na hora da despedida da Terra da Alegria: homenagem à nossa querida Nitas, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 15 jan 1947 - Porto, 24 mar 2023) - Parte II (Maria José Barbosa, "Zezinha")

27 de maço de 023 > Na hora da despedida da Terra da Alegria: homenagem à nossa querida Nitas, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 15 jan 1947 - Porto, 24 mar 2023) - Parte III (Tiago e Filipe, filhos)

27 março 2023

Na hora da despedida da Terra da Alegria: homenagem à nossa querida Nitas, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 15 jan 1947 - Porto, 24 mar 2023) - Parte III (Tiago e Filipe, filhos)

 



Vila Nova de Gaia  > 20 de junho de 2019 >  A Nitas, a tocar o cavaquinho, n dia do casamento do filho Tiago (aqui na foto, de costas, regendo o grupo musical que abrilhantou a festa) O Filipe aparece em segundo plano, a tocar viola. E o pai de ambos, o Gusto, é o segundo acordeão. O primo João (violino) aparece à esquerda, por detrás dos dois acordeãos.

 

Maia > ESMAI > 27/6/2017  > Com o coro e  grupo de cavaquinhos  da Casa do Pessoal do ISEP. A Nitas é a quarta, da primeira fila,  a contar da esquerda.


Macedo de Cavaleiros > Podence > Casa do Careto > 11 de fevereiro de 2018


Lisboa > MAAT > 17 de junho de 2018 > Com o Gusto, frente ao estuário do rio Tejo, a ponte e o Cristo Rei

Fotos: álbum da família (com a devida vénia)


1. Palavras ditas pelo filho Tiago, 40 anos, na missa de corpo presente, dia 25 de março, na igreja de Padrão da Légua, Matosinhos, reproduzidas aqui com a devida vénia (*):

Mãe,

De todos os dias da minha vida, este era o que mais temia, e o que menos queria que chegasse. Metade de mim partiu.

Levo comigo o teu sorriso daquele último domingo enquanto brincavas com os teus netos.

Eras um abraço quentinho e sempre aberto, um coração sem tamanho, onde cabiam na mesma medida todas as dores e alegrias, as tuas e as de todos nós.

Eras toda emoção, de choro fácil, mas de sorriso ainda mais. Eras pura em vontade de viver.

Tenho a certeza de que onde quer que estejas, estás a olhar por nós, como sempre o fizeste e tão bem nos ensinaste.

E tenho a certeza ainda maior de que há nomes tão fortes que a morte só leva emprestado. Por isso havemos de dançar, cantar, pintar, escrever, cozinhar, tocar ... enfim, havemos de criar! Seja o que for, mas inspirados em ti e no sentimento que em nós deixaste ganharás vida. E enquanto assim for nunca hás-de morrer!


2. Palavras do filho mais velho, Luís Filipe, 44 anos, na capela da Sra do Socorro, Paredes de Viadores, 25/3/2023, às 15h00 (reproduzidas aqui, com a devida vénia):

Antes de mais queria agradecer a todos a vossa presença aqui, isto significa muito para nós e significaria muito para ela também, pois a coisa que ela mais cultivou ao longo da vida foi a amizade.

Desde a última vez que falei para a maioria dos presentes, que foi no casamento do meu irmão, muitas coisas mudaram, mas a principal, é o facto de a minha mãe estar na primeira fila, sendo ela a protagonista.

Para mim a minha mãe, entre tantas, definia-se com estas palavras:

(i) Honestidade – Deverá ser, a par do meu pai, a pessoa mais honesta que conheci, tudo para ela era sobre fazer o bem e corretamente; devo-lhes isso, aos meus pais, e todos os dias faço o meu melhor para que se orgulhem de mim e o que me ensinaram não tenha sido em vão:


(ii) Sensibilidade – Não era sensível, era hípersensível, conseguia chorar em todos as situações, más ou boas, e em muitas delas sem razão aparente, mas a ironia tem destas coisas… e hoje aqui estamos …todos a chorar e ela não;

(iii) Gratidão - A primeira palavra que lhe saía da boca para qualquer coisa de bom que lhe acontecia era a palavra “Obrigada”. Mesmo quando era comigo que a situação era boa, ela obrigava-me a agradecer e não descansava enquanto não o fizesse (E aproveitando esta alavra em especial ela quereria neste momento, assim como nós, agradecer ao Dr. Ricardo Pinto o seu empenho, profissionalismo e amizade pela minha mãe e que fez com que prolongasse ao máximo da vida dela e, portanto, a nossa felicidade: não existem palavras uficientes para agradecer a ele e a todos os profissionais do Hospital de S. João que trataram com carinho e amor a minha mãe, portanto vou ser prático e dizer como a minha mãe me ensinou “Muito Obrigado”.)

(iv) Regateadora – Possivelmente uma das maiores regateadoras que o mundo já viu, conseguia os melhores descontos com uma técnica muito apurada… um misto de paciência e determinação e provavelmente sendo um pouco somítica; para tal comprovar, tenho uma história, era eu criança e fomos comprar umas sapatilhas para mim na Rua de Costa Cabral, entramos e saímos de todas as lojas para ver todos os preços e voltámos à primeira que tínhamos visitado; depois de experimentar e de pedir para as levar, pediu o inevitável descontinho, ao que o dono da loja disse que não podia de maneira nenhuma, porque até estavam com 40% de desconto em plena época de saldos; ela não cedeu e meia hora depois saímos com as sapatilhas na mão e com mais 20 escudos no bolso; portanto tinha valido a pena!!!


(v) Amor – Acima de tudo um amor incondicional aos irmãos, cunhados, sobrinhos, amigos, ao
amor da vida dela de 50 anos, aos filhos, às noras e principalmente aos netos que foram no
fundo a razão maior para ter lutado tanto tempo pela vida, pois queria acompanhar o máximo
da vida deles.

Mãe, estas palavras são agora para ti, foste a melhor mãe do mundo, estou-te agradecido por tudo que fizeste por mim, o teu amor e o teu carinho, a tua sensibilidade e honestidade fizeram de mim o que sou hoje e apesar da tua aparente fragilidade foste a mais corajosa e
lutadora de todos os que conheci. Amo-te muito! Sei o que querias para mim e espero estar à altura.


De todas duas palavras deixei duas últim para o fim e que nunca pensei dizer tão cedo: Adeus Mãe!"

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26 março 2023

Na hora da despedida da Terra da Alegria: homenagem à nossa querida Nitas, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 15 jan 1947 - Porto, 24 mar 2023) - Parte II (Maria José Barbosa, "Zezinha")



Candoz, a Nitas aos dois anos... 
Uma das raras fotos da primeira infância.



Paredes de Viadores > 1957 > A Nitas, aos 10 anos, quando fez a primeira comunhão




Candoz: a Nitas aos 12 anos, quando cortou as tranças...



Paredes de Viadores  > A Nitas e o Gusto em 1966, 
por ocasião do casamento do irmão, 
Manuel Ferreira Carneiro, com a Mi


Porto > 1984 > A Nitas e o Filipe, com a Zezinha, 
no dia do casamento desta com o Eduardo. 
Foi a primeira neta dos avós José Carneiro 
e Maria Ferreira


Fotos de família (com a devida vénia).


1. Na hora da despedida da Terra da Alegria: homenagem à nossa querida Nitas, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 15 jan 1947 - Porto,  24 mar 2023) - Parte II (Maria José Barbosa, "Zezinha") (*)

Oração fúnebre dita na missa de corpo presente, na igreja do Padrão da Légua, Matosinhos, dia 25 de março de 2023, cerca das 11h00, pela Maria José Barbosa, a sobrinha Zezinha, 

Texto de que a tia Nitas gostava muito e que me pediu para ler, na hora do último adeus:

Aos meus amores e aos meus amigos:

Ah!, por favor, não vos deixeis morrer!... Nos últimos anos que passaram, a morte levou tantos e alguns nem sequer se despediram de nós….

Mas eu não quero cometer a mesma ingratidão. Na hora da minha partida, faz-me um favor, chora o quanto quiseres, mas não te revoltes contra Deus por Ele me ter levado. 

Se não quiseres chorar, não chores, se não conseguires chorar, não te preocupes, e até se tiveres vontade de rir, ri-te do absurdo e da injustiça que é, muitas vezes, a vida e a morte, para os não crentes e até para os crentes. Olha, vê o meu sofrimento ao longo destas quatro anos de doença…

Se alguns dos meus amigos e conhecidos te contarem algum facto a meu respeito, ouve e depois acrescenta a tua versão; se me elogiarem demais, corrige o exagero; se me criticarem demais, defende-me.

A vida inteira eu tentei ser boa e amiga de todos, o que não quer dizer que eu não tivesse também os meus pecados. Por favor, não me santifiques nem me diabolizes.

Sendo crente e cristã, não quero que falem mais de mim do que de Jesus Cristo, se quiseres falar com Ele, fala que eu ouvirei, eu espero estar com Ele, a partir de agora, e poder interceder por todos vós, meus amores e meus amigos, que ainda ficaram na Terra.

E se tu tiveres vontade de escrever algo sobre mim, diz apenas uma frase: “Foi minha amiga, acreditou em mim”. Ou “Foi a companheira da minha vida”; ou “Foi a minha querida minha mãe, nora, avó, irmã, cunhada, tia, etc”… 

Então podes derramar uma lágrima, não fará mal, eu não estarei lá para enxugá-la, mas outros familiares e amigos estarão, e farão o mesmo no meu lugar. E, vendo-me bem substituída, irei cuidar da minha nova tarefa lá no Céu.

De vez em quando espreita lá para cima, para o céu estrelado, eu estarei por lá, nalguma estrelinha, e ficarei muito feliz vendo-te a olhar para o firmamento, quiçá à procura de Deus ou de resposta para as tuas perguntas sobre o sentido da vida e da morte. E, quando chegar a tua vez de deixares esta Terra que também foi a da nossa alegria, que nenhuma barreira nos separe, vamos continuar a celebrar o amor e a amizade.

Há quem, de entre vocês, não acredite nestas coisas. Se tu acreditas, então reza, como quem sabe que vai morrer um dia, e que, ao morrer, sabe que viveu uma vida que valeu a pena.

Ter tido o privilégio do vosso amor e da vossa amizade já foi ter tido um pedacinho do Céu. Na hora da partida da Terra da Alegria, consola-me ter sabido que muito amei e que fiz muitos e bons amigos.

Até sempre, meus amores e meus amigos. A vossa Nitas.

 (Revisão e fixação de texto: Luís Graça... Texto lido pela Maria José Barbosa, a Zezinha, nascida em 1963)

Na hora da despedida da Terra da Alegria: homenagem à nossa querida Nitas, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 15 jan 1947 - Porto, 24 mar 2023) - Parte I (Luís Graça)


Ana Ferreira Carneiro, a nossa querida Nitas, na sua casa da Madalena, Vila Nova de Gaia, em 19/6/2019, no dia do casamento do filho mais novo, o Tiago, mas já com o diagnóstico da doença, a mielodisplasia, quatro anos depois, iria estar na origem da sua morte. Deu-nos um extraoridnário exemplo de abnegação, resistência, vontade de viver, amizade e amor,


Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Porto > Praça do Marquès > Igreja Senhora da Conceição >
6 de abril de 1974 >Casamento da Nitas e do Gusto




Porto >12 de agosto de 1979 > O Gusto e a Nitas:
batizado do primeiro filho, o Luís Filipe...


Fotos do álbum da família (com a devida vénia)



1. A Quinta de Candoz e a nossa família ficaram mais pobres, a partir de anteontem, com a morte da "Nitas"... De seu nome completo de casada, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, 15/1/1947 - Porto, 24/3/2023)

A engenheira  Ana Carneiro, carinhosamente conhecida por "Nitas", formou-se em 1973 (no antigo Instituto Industrial do Porto) e trabalhou desde então, e durante quase quatro décadas (até 2010), no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto, no departamento de Engenharia Química, Laboratório de Tecnologia Química.

Era irmã dos outros 3 sócios da Quinta de Candoz, Rosa, Alice e Zé. A segunda mais nova dos filhos do José Carneiro e da Maria Ferreira, era ainda irmã do Tó e do Manel.

Fez parte, já reformada, de vários grupos musicais (coros e cavaquinhos). Outro dos seus hobbies era a jardinagem.

Era casada com o Augusto Pinto Soares, "Gusto", economista, e gestor, reformado (coeditor do nosso blogue e o homem dos 7 sete ofícios da Quinta de Candoz).

Deixa dois filhos, Tiago, médico, e Filipe, inspetor tributário. E ainda dois netos, que muito a ajudaram a viver e a ter esperança: a Carolina (filha da Susana e do Filipe) e o João (filho da Sofia e do Tiago). Morava na Madalena, Vila Nova de Gaia.

As cerimónias fúnebres realizaram-se em dois locais:

(i) igreja do Padrão da Légua, São Mamede de Infesta, Matosinhos, com velório a partir das 18h00 do dia 24 de março, sexta-feira, e missa de corpo presente às 10h00, no sábado, dia 25;

(ii) seguindo depois o féretro para a sua terra natal, que ela tanto amava; o corpo desceu à terra por volta das 15h00, no cemitério da freguesia de Paredes de Viadores, Marco de Canaveses.


 


Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Festa da família Ferreira > 7 de setembro de 2013 > Juntou mais de 100 pessoas. A festa realiza-se desde meados dos anos 80 do séc. XX. A última tinha sido em 2011.

Neste vídeo mostra-se a exibição de um grupo de mulheres da família que cantam lindamente os tradicionais cantaréus da região do Douro Litoral (que só podem ou devem ser cantados pelas mulheres, nas vindimas, e estão hoje praticamente extintos, o termo aliás nem sequer está, lamentavelmente, grafado no Dicionário Periberam da Língua Portuguesa): Nitas, Mi, São (mulher do nosso violinista Júlio Veira Marques)... e Dolores Carneiro... A Nitas está de óculos escuros e xaile tradicional, e irradia uma fantástica energia. Ela adorava cantar e aprendeu a tocar cavaquinho, já depois de reformada.


Vídeo (1' 59''). Alojado em You Tube / Luís Graça (2013) (*)



2. Oração fúnebre dita na missa de corpo presente, na igreja do Padrão da Légua, Matosinhos, dia 25 de março de 2023, cerca das 11h00 (**):


Querida Nitas:

Hoje há lágrimas e suspiros. Hoje é o dia mais triste das nossas vidas. Agora que partiste para a tua última viagem, aquela que não tem retorno, há um nó na garganta que nos sufoca e não nos deixa dizer tudo o que nos vai na alma.

Sabes, na hora da morte dos que nos são queridos, as palavras de pouco nos servem de consolo. Escrevi-te tantos sonetos, quadras e outros textos poéticos, ao longo da tua vida, por ocasião dos teus aniversários e em outros momentos felizes que passámos juntos no seio das nossas famílias… Mas ficou, afinal, tanto por te dizer e partilhar contigo!...

Contra toda a evidência médica, fomos resistindo à ideia de te perder e fomos sempre alimentando a luzinha que, embora muito trémula, ainda era visível ao fundo do túnel, há uns meses atrás. Mas tu sabias que a vida te estava a escapar… não obstante a dedicação e a competência dos “anjos”, que no Hospital de São João, cuidaram de ti, a começar pelo teu hematologista, dr. Ricardo Pinto.

Recordo o que me escreveste, há um ano, agradecendo as palavras que eu te mandei, em meu nome e da tua mana Alice, por ocasião dos teus 75 anos. “Querido Luís: Quando partirmos para o outro lado do rio de Caronte, como tu dizes, o que fica para a posteridade, é o que tu escreves agora para nós… Tantas e tão lindas recordações. De nós pouco fica… Obrigada mais uma vez, a todos, por todo o carinho que recebo.” (Fim de citação).

Não, Nitas, de ti fica muito. Antes de mais, fica, em nós, uma saudade imensa. De ti, fica o teu sorriso luminoso, a tua grande bondade, a contagiante alegria de viver, a tua beleza interior, a tua gentileza, a tua fotogenia, o carinho com que tratavas as tuas plantas e flores na Madalena e em Candoz, o prazer com que ias para o coro e o cavaquinho, o orgulho, a ternura e o amor que tinhas pelo teu marido, Gusto, e pelos teus filhos Luís Filipe e José Tiago, o desvelo e o carinho que manifestavas pelos teus netos, e as tuas noras e a tua grande família: manos, cunhados, sobrinhos, etc.

Fica o exemplo extraordinário de abnegação e de resistência que deste ao longo de quatro anos de luta contra uma doença crónica degenerativa, cruel, irreversível, incurável, injusta. Tu não merecias este desfecho.

E fica o teu Gusto, sempre discreto mas eficiente e presente, sempre a teu lado, nos piores e melhores momentos, o Gusto, o teu grande companheiro de jornada, de estrada, o grande amor da tua vida. Fica o seu exemplo, para todos nós, de um extraordinário cuidador. Sem um ai, sem um ui, escudando-se muitas vezes na sombra, fora das luzes da ribalta, sem procurar protagonismo. Porque ele sabia que tu farias exatamente o mesmo por ele. Essa, sim, é uma grande prova de amor.

Fica ainda o exemplo do resto da tua família, que esteve sempre a teu lado, que soube ser carinhosa, fraterna e solidária na grande provação que foi a tua doença. Sem esquecer os teus bons amigos e antigos colegas, do ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto e dos grupos do coro e do cavaquinho…

Na tua morte, querida Nitas, todos morremos um pouco contigo. Falo em meu nome, em nome dos meus e dos teus, e de todos os demais que muito te amaram e que te vão recordar pela vida fora. Prometemos nunca te esquecer enquanto ainda tivermos do lado de cá do rio. Também já temos a moeda para dar ao barqueiro Caronte que nos há de levar ao teu encontro, na outra margem. Até lá vamos falando contigo, mesmo por entre lágrimas e suspiros. 

Recusamos dizer-te adeus, até sempre. Apenas, adeus, até um dia destes, querida Nitas!

Luís Graça