21 janeiro 2020

Um quebra-costelas para o João Graça, que faz hoje mais um aninho... e tem uma Clarinha com dois meses e picos

Retrato do pai (do artista, quando jovem)



Meu querido João,


A vida passa tão depressa por nós…
Ou somos nós que passamos tão depressa pela vida !?


Ainda ontem estavas a nascer,
faltava meia hora para o dia 22 de janeiro de 1984...
E uma hora antes, íamos aos solavancos, de carro,
até ao Hospital Particular,
ouvindo, na rádio, canções com letras de um poeta,
Ary dos Santos,
falecido três dias antes, aos 46 anos...


Sabes, fomos para o Hospital Particular,
para teres um pouco mais de privacidade, ao nasceres,
que o melhor daquele Hospital era estar
ao pé da Maternidade Alfredo da Costa,
para o que desse e viesse,
dizia a tua mãe…


Ainda ontem eu te segurava (mal) ao colo,
enquanto lia os jornais do fim de semana,
e a tua mãe te lavava os cueiros…
e eu te deixava cair por entre as pernas,
e tu já começavas a gatinhar
e a explorar o pequeno grande mundo à tua volta.


Ainda ontem te levava às cavalitas, logo de manhã,
até à senhora que, perto de casa, tomava conta de ti
enquanto a gente trabalhava em Lisboa.
(Não, quem eu levava às cavalitas, era a tua mana, Joana,
cinco ou seis anos atrás...).


Ainda ontem te levava pela mão
até ao jardim e creche
do Instituto Nacional Nacional de Saúde
Doutor Ricardo Jorge,
onde fostes a criancinha mais feliz do mundo
no meio de tantas outras crianças felizmente felizes…


Ainda ontem me desenhavas e pintavas,
cabeludo e barbudo,
e, confesso, foi o mais belo retrato
que me fizeram:
guardo-o com todo o carinho.
Tinhas que ser artista,
não fostes pintor, foste músico…


Ainda ontem, andavas na escolinha do Bairro Azul…
Ainda ontem, te trouxe um violino de Dublin,
para tu começares a “serrar presunto”,
como dizia a tua mãe,
que fez tudo para alimentar a tua veia musical,
incluindo levantar-se, às quatro da manhã,
para arranjar um senha
na altura das matrículas no Conservatório…


Ainda ontem eu te levava,
aos 12 anos, pela mão,
até ao Bairro Alto, até ao Conservatório,
onde estudavas violino,
para depois regressares a casa sozinho, de autocarro...
Era de pequenino que se torcia o violino
e se exorcizavam os medos.


Ainda ontem jogávamos à bola na praia do Caniçal,
ou andávamos à caça dos gambozinos,
nas noites quentes de verão na Quinta de Candoz…
Com os muitos primos que, felizmente, tens,
no Norte e no Sul.


Ainda ontem...
Ainda ontem te obriguei a fazer um blogue,
quando fostes fazer um ano de Erasmus em Florença,
e donde nos enviaste, com regularidade
um bilhete postal,
de setembro de 2005 a julho de 2006…
“Arriverdecci Portogallo”!...
Eras o Jonny Grace Da Vinci
http://jonnydavinci.blogspot.com/


…E aprendeste lá que o mundo era uma aldeia global,
onde podemos (e temos de) caber todos,
com tudo o que nos une
e até com o que nos pode separar.




Ainda ontem os teus avós eram vivos,
os de Candoz e os da Lourinhã…
Ainda ontem tu gostavas de anotar,
nas toalhas de papel das mesas dos restaurantes,
as anedotas, as quadras, os trocadilhos
do avó Luís-que-é-como-quem-diz...


Ainda ontem…
Ainda ontem, foste à Guiné,
num das mais belas experiências humanas da tua vida
e fizeste questão de ir a alguns sítios
onde o teu pai fizera a guerra e a paz,
no século passado…


Ainda ontem…
Ainda ontem foste pai, de uma Clarinha Klut da Graça,
E hoje és feliz, a três, com a tua Catarina...
E tens a Senhora do Monte que vos protege,
com Lisboa a seus pés,
e o Funchal, mais ao longe,
para lá da linha do horizonte...


Visto do alto dos meus quase 73 anos,
a fazer daqui a dias,
fico orgulhoso, meu filho,
ficamos orgulhosos,
eu e a tua mãe, e a tua mana,
por teres nascido
e seres o que és,
um grande ser humano!
Que é o que importa, a essência,
a humanidade que passamos de geração em geração,
dos teus avós e dos teus pais,
para ti e a tua filha…
O resto é acessório, é currículo, é circunstância...


Parabéns, meu filho, pelos teus 36… aninhos!
Muita saúde, felicidade e longa vida,
porque tu mereces tudo.


Teu pai, Luís
Tua mãe Alice, tua mana Joana


Quinta das Conchas, Lisboa, 21 de janeiro de VINTE-VINTE. 11h00


PS - Ainda hoje... não tinhas nascido.
E já aqui vão, pela manhã,
os meus/nossos versinhos de parabéns.
Já os tinha magicado,
ontem à noite, na hora dos poetas...
Hoje, passei-os a escrito...
Estou na Quinta das Conchas, meio empenado,
enquanto a tua mãe faz a caminhada dela,
com os caminheiros da nossa tertúlia...
Mas sempre gostei de escrever à mesa dos cafés,
vício da gente da minha geração...


E não leves a mal que eu os já tenha partilhado, em parte,
com todos aqueles que te amam e te estimam...
Mais logo, ao jantar,
espero poder dizer-tos de viva voz,
ao pé da tua Clarinha e da tua Catarina,
da tua mãe, da tua mana e da prima Urchi.


Um "quebra-costelas", à moda alentejana...
Teu pai.


15 janeiro 2020

Para a tia Nitas, que faz hoje aninhos!



Voltar à vida!



Que bom voltar a fazer anos outra vez,
Diz a ti Nitas, com um sorriso rasgado,
Mesmo que sejam já uns setenta e três,
Há festa lá em casa e rancho melhorado.


Se a saúde nos prega uma boa partida,
A gente cerra fileiras, logo responde,
Não nos falte a esperança enquanto há vida,
E vai-se buscar forças não se sabe aonde.


É, pois, mais um dia de grande alegria,
E vais estar à mesa, com sorrisos e flores,
Daqueles que te amam e fazem companhia.


Neste ano, que é uma bela capicua,
Mesmo longe, estamos contigo e os teus amores,
Daqui te saudamos e brindamos: “À… tua!”…



Alice, Luís, Joana,
João, Catarina e Clarinha,
Lisboa, 15 de janeiro Vinte-Vinte

07 janeiro 2020

Balada do aprendiz de marinheiro... (Para o Luís Filipe, que hoje faz entas + 1)

Balada do aprendiz de marinheiro 


Aonde é que tu, meu cadete, andarias,
a esta hora, se na Escola tens ficado ?! 
No navio-escola Sagres embarcarias, 
e p’lo mundo muito terias viajado. 

Em boa hora não quiseste ser marinheiro… 
Quem cuidaria do Gaudi e da Carolina ? 
Puseste os teus amores, e bem, em primeiro, 
usando a arte de navegar á bolina… 

Em bom porto tinhas à espera a Susana, 
mais do que sereia, a mulher da tua vida, 
mas não lhe chega só amor e uma cabana: 

“Quero um vivenda, toda Xis-Pê-Tê-Ó, 
juras, levas-as o vento, uma prenda me é devida, 
e contigo e a Carolina, nunca est’rei só!” 


Para o Luís Filipe, em dia de anos 
(na era  dos entas + 1…) 

7 de janeiro de Vinte-Vinte! (feliz capicua…) 

Parabéns dos tios de Lisboa, 
que te deram guarida, 
nos teus heroicos tempos de aprendiz de marinheiro… 

Xi-corações também do João e da Joana.