30 agosto 2012

José Carneiro (1911-1996): uma outra faceta, a de negociante e criador de gado


Candoz > 2011 > O velho carro de bois .

Foto: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados


1. José Carneiro não era propriamente um "homem dos sete ofícios"... Mas a verdade é que teve três ou quatro, onde foi bem sucedido: ramadeiro, agricultor, comerciante de uvas, criador de gado... Tinha duas quintas, uma com caseiro (Carreira Chã).

Nas suas agendas (anuais), de pequeno formato, ele costumava registar alguns apontamentos dos seus negócios... Na agenda de 1980 (completa), fui encontrar os seguintes registos relativos à compra e venda de gado:

17 de janeiro, sábado:

Comprei uns bois  [de trabalho]  para Passinhos por 14950$00. Gainho (sic): 250$00 [ Este último averbamento é posterior, foi escrito depois da venda da junta de bois, presume-se. O negócio era feito no mercado do gado, no Marco, ou porta à porta; ele volta a comprar bois para Passinhos em 16/3/1980].

25 de janeiro, domingo:

Comprei 1 touro para Candoz [, ou seja, para engorda], por 4750$00. Perca: 250$00.

16 de março, 2ª feira:

Comprei uns bois para Passinhos por 16400$00. [Por lapso, não indicou o lucro ou perda depois da venda; nessa altura ele tinha alguns vizinhos com quem trabalhava de parceria pecuária: adiantava o capital, o outro parceiro dava o trabalho, e os eventuais lucros eram divididos a meio].

5 de abril, domingo de Pascoela

Comprei 1 touro para Candoz por 4200$00. Gainho: 500$00

12 de abril, domingo

Comprei 1 touro para Candoz por 4800$00. Ganho em 2 meses: 750$00 [Quer dizer que o touro tinha sido comprado por 4050$00].

28 de junho, domingo:

Comprei 1 touro para Candoz por 5900$00. Ganho: 400$00.

17 de julho, 6ª feira:

Comprei 1 touro para Candoz por 5700$00. Ganho em 1 mês e meio: 1300$00,

8 de agosto, sábado

Comprei 1 touro para Candoz por 5300$00.

4 de setembro, 6ª feira:

Comprei 1 touro para Candoz por 5600$00. Ganho em 6,,5 meses: 1600$00


2. Na agenda de 1979 (incompleta), encontrei este registo com o resumo da atividade anual:

Gainho (sic) dos touros, de janeiro até ao fim do ano de 1979:

1 touro - 3 meses > 570$00
2 touros - 3 meses > 5400$00

Subtotal 11100$00

3 touros - 1 mês > 5500$00
1 touro - 4,5 meses > 16300$00 (*)

Total: 32900$00

(*) Deve corresponder ao registo de 21 de junho de 1979:

"Comprei 1 touro para Candoz: 24700$00. Gainho em 4 meses e meio: 16300$00".

Na agenda de 1979 (a que faltam folhas), ainda encontrei estes dois rtegistos:

(i) 7 de julho:

"Comprei 1 touro para Candoz: 31500$99. Para pensar ao Manuel. 1 mês, 550$00 [de lucro]. Vendido  em 15 de agosto.

(ii) 15 de agosto:

"Comprei 1 touro por 25400$00. Candoz e Manuela [, filha de vizinho, caseiro].

A prestigiada e sempre muito concorrida feira do gado do Marco de Canavezes entrou em declínio ou encerrou mesmo, como muitas outras no norte, por razões de zoossanidade, já na década de 1980,  se não me engano (não posso precisar nem o ano nem as razões, mas julgo que foi logo em meados dos anos 80, na sequência da BSE ou doença das "vacas loucas" ...

E o "pensar um tourinho" (sic) deixou, assim,  de ser uma atividade económica e socialmente interessante para as gentes da região, ainda ligadas à agricultura e á pecuárias, e a formas de exploração agroepcuária precapitalistas que sobreviveram ao 25 de abril...

Depois veio a  cantiga do bandido,a Cê-Ié-Ié, em 1986... o novo edolrado, o novos brasis, o dinheiro fácil, o "boom" da construção civil,  etc., nos anos seguintes, enfim fatores (endógenos e exógenos) que levariam, mais uma vez,  os mais jovens a sair da terra... Mais recentemente, veio, para ficar, a... troika, ou seja, os novos senhores que mandam neste terra milenária e resiliente...

Luís Graça (com contributos do Gusto e da Mi).

José Carneiro (1911-1996). mordomo da festa da Nossa Senhora do Socorro em 1960



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Foto nº 1 - Discriminação das despesas da Festa de Nossa Senhora do Socorro (sem data). Escrituração feita por José Carneiro, mordomo da festa. Segundo a filha Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares, tratou-se da festa do ano de 1960.




Despesa
Valor
Música dos B. V. Portuenses
4100$00
Música dos B. V. de Rio Mau
2500$00
Fogo de quatro fogueteiros
7600$00
Iluminação
2750$00
Armação [dos andores]
1000$00
Zés Pereiras
450$00
Autofalante
250$00
Carne para as músicas [bandas]
1222$00
Carpinteiro do sr. Geraldes [do Juncal]
162$00
João de Magalhães  [que deitou o fogo]
50$00
Tipografia: programas e estampas
290$00
Selo de 35 programas
14$40
Licença da Câmara  para as músicas
66$00
Guarda [Nacional] Republicana
360$00
Carro em que regressou a GNR
40$00
Câmara {Municipal]: Energia e eletricista
137$50
Flores e correio
58$80
Pão de trigo e de milho
96$00
4 quilos de cavacas para os anjinhos
100$00
Despacho do fio de cobre para iluminação
9$70
Expediente
28$80
Mercearias
763$60
Gratificação para o electricista
50$00
Vinho para as músicas
1000$00
Padres
450$00
Total
23447$60





Foto nº 2 - Saldo da festa : "Rendimento de tudo da festa da Senhora do Socorro" (s/d). Escrituração feita por José Carneiro, mordomo da festa.


Receita
Valor
Rendeu a festa em dinheiro
 4240$20
Apurou-se em ouro
1817$50
Recebeu-se dos mordomos de Paredes
5791$60
Recebeu-se dos mordomos de Viadores
5186$50
Renderam as flores [de papel]
642$00
 Total
17677$80



Despesa
23447$60
Apuros
 17677$80
Saldo [negativo]
5769$80

Observ. O prejuízo foi dividido pelos 6 mordomos da comissão organizadora (cabendo 961$63, a cada um…). Outros tempos, outras gentes,outros valores!...

A Nitas lembra-se, tinha ela 13 anos já feitos, de andar na festa a angariara dinheiro com as florinhas de papel que eram espetadas na lapela do casaco dos homens, à entrada do recinto. As receitas que daí provieram ainda atingiram uma cifra razoável para a época: c. de 650$00... Também era vulgar as as pessoas ofereceram à Nª Srª do Socorro objetos em ouro (brincos, cordões, etc.), como forma de pagamento de promessas.

Repare-se, por outro lado, que o foguetório já nessa altura representava 1/3 do total das despesas, e mais de outro tanto a contratação de duas bandas de músicas, pagas em dinheiro e em géneros (38%). Nas despesas com os padres, inclui-se p pregador, que vinha de fora.

José Carneiro foi mais de uma vez mordomo destas festas de Nº Srª do Socorro, que se realiza todos os anos no último domingo de julho.  LG

PS - Cópia de documentos, avulsos,  do espólio de José Carneiro.Infelizmente sem data.

Luís Graça (com contributos da Nitas e da Mi)

29 agosto 2012

José Carneiro (1911-1996), construtor civil de ramadas


Foto nº 1 - Duplicado de recibo de 30 de dezembro de 1953

José Carneiro (1911-1996) exerceu, durante décadas, a atividade de “construtor civil de ramadas”, vulgo ramadeiro. Era uma atividade sazonal, que conciliava com a de agricultor e também, mais tarde, de negociante de uvas. Tinha fama de ser exigente para com os seus trabalhadores, e oferecer aos seus clientes garantias de obra acabada, bem feita e duradoura.

Tanto quanto sei, foi ofício que herdou do pai, e que foi continuado pelo irmão mais velho, António Carneiro, nascido em 1909 e já falecido (em data que não posso precisar; 1974 ou 1975, diz a Alice). José era o irmão mais novo da família Carneiro, de Ribeirinho. O pai deve ter morrido em 1929, quando ele tinha 17 ou 18 anos. O pai terá começado a trabalhar em ramadas na Casa da Igreja (ou de Paredes). O José trabalhou com o seu mano António como ramadeiro, até casar, em 1938. Depois estabeleceu-se por conta própria.

Devia estar inscrito como “construtor civil de ramadas” na repartição de finanças do Marco de Caneveses, e como tal sujeito a contribuição industrial, embora possivelmente isento. Não há documentos, no seu espólio, comprovativos da contribuição industrial. Pagava, entretanto, o imposto municipal de "prestação de trabalho", que existiu até ao 25 de abril

 Passava recibos dos serviços prestados, quando lhe eram pedidos. Um dos livros de recibos que nos chegou às mãos abarca uma década de atividade (1952-1962). O livro deveria ter 100 recebidos (original e duplicado). O nº de duplicados que contámos é de 90. Faltam portanto 10. (Segundo o Zé, seu filho mais novo, e que trabalhou com ele na década de 1960, alguém, um amigo,ter-lhe-á sugerido que mandasse fazer, numa tipografia do Marco, duas cadernetas de recibos; uma delas  ficou por estrear).

Os recibos eram passados pelo próprio, escritos a tinta azul, numa letra certinha de mais para quem só tinha a 3ª classe. Temos, no seu espólio, duas canetas fininhas, de aparo, que ele utiliazava em casa. Raramente usava papel químico, pelo que os duplicados eram também escritos a tinta. Os duplicados estão numerados até ao nº 19. Depois disso, deixa de haver numeração. Faltam os duplicados nº 1 a 4, 7, 14, 17 e 18.

O primeiro (recibo nº 5) data de 4 de fevereiro de 1952 e o último, de 28 (ou 22?) de fevereiro de 1962.

A equipa de ramadeiros era flexível, variando entre 3 a 7, incluindo o próprio construtor e pelo menos um dos seus filhos (primeiro o mais velho, o António, e depois o Manuel Ferreira Carneiro e, mais tarde, nos anos de 1963 a 1967, o José Ferreira Carneiro, o benjamim da família). 

Em geral, o construtor ganhava o dobro dos seus oficiais. Os honorários do construtor vão, nesta época (em que praticamente não havia inflação) , entre os 30 e os 50 escudos, dependendo do cliente e da distância da obra em relação ao local do estabelecimento principal (que era Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses). As ferramentas eram dele. O material (esteios, em pedra, e mais tarde em cimento, bem como o fio de arame) eram fornecidos pelo cliente (, o proprietário).

Durante toda esta década a equipa de ramadeiros era variável, de acordo com a dimensão da obra e a disponibilidade do pessoal. Mas há elementos que são mais ou menos constantes:

(i) José Carneiro;

(ii) José de Sousa ou “Zé de Celeiro” (residia em Ambrões; ganhava mais do que os outros, presumindo-se que fosse o mais experiente e desembaraçado: em geral, em termos de grelha salarial, havia uma diferença de 5 a 7,5 escudos entre ele e os restantes oficiais; acabaria de estabelecer-se por conta própria, no início dos anos 60; nessa altura, por volta de 1961, ganhava quase tanto como o patrão: por ex., 45$00, cinco escudos menos que o patrão, e dez escudos mais do que os restantes companheiros);

(iii) António Vieira (um nome constante ao longo deste período, começou por ganhar 20$00 em 1952 e 30$00 e 32$00 em 1962; era muito amigo do José Carneiro, e pessoa da sua confiança);

(iv) Manuel de Sousa:

(v) Francisco de Sousa;

(vi) Armando Cardoso (desde 1954);

(vii) António Vieira Couto (, de Viadores)

(viii) Francisco Vieira Leitão

(ix) José Ferreira Carneiro (às vezes, coadjuvado pelo irmão; era sobrinho do patrão)…

Outros nomes (por ordem alfabética), que trabalharam com José Carneiro ao longo destes anos (1952/62): Adriano Carneiro, Agostinho Ribeiro, Américo Ferreira Carneiro (sobrinho do empresário), António Almeida, António Fernandes, António Monteiro, António Peixoto, Ernesto M. Marques, João Magalhães, Joaquim Barbosa, Joaquim Madureira, Joaquim M. Mendes, Joaquim P. Lucas, José Soares (Nogueira), Manuel Barbosa, Manuel Couto, etc.

Em 1954, o filho mais velho do construtor, o António Ferreira Carneiro, ganhava 15$00, menos de metade que o pai (40$00), enquanto os restantes oficiais ganhavam 20$00, numa empreitada na Casa de Manhuncelos (Data: 19/12/1954. Valor total do recibo: 595$00). 

O António deve ter deixado de trabalhar com o pai por volta dos finais de 1957, altura em que emigrou para o Brasil (já em 1958), sendo substituído por outro filho, o Manuel Ferreira Carneiro, que nos anos de 1958/59 ganhava 18$00, passando a 20$00 em 1960 , e depois 23$00, em 1961, e 25$00/26$00, em 1962… (O Manel irá depois para o Porto, onde trabalhou numa fábrica e se casou, antes de emigrar para França).

Poucos recibos, desta época, ultrapassam o valor de 1 conto de réis. Um deles diz respeito a uma obra em Vila Boa de Quires, no concelho do Marco de Canaveses, tem data de 29/11/1953 e está assim discriminado:

Nome
Dias
Salário
Total
José Carneiro
18
50$00
1900$00
José de Sousa
18
27$50
495$00
António Vieira
18
20$00
360$00
António Couto
18
20$00
360$00
António S. Almeida
18
20$00
360$00
Francisco V. Leitão
18
20$00
360$00
José F. Carneiro e Luís (?)
14
20$00  (?)
266$00


Soma
4011$00

 Nesta data os honorários do construtor atingiam o máximo (50$00) deste período, o mesmo que cobrava no final, em 1962… A estes honorários a que acrescentar os dos filhos, que trabalham gratuitamente para a casa... Ele teria tabelas diferentes… para os “ricos” e os “pobres” (amigos, vizinhos…).

Num recibo sem data (mas do ano de 1956), referente a uma obra numa ramada do sr. Leite de Viadores, no valor de 215$00, o construtor  contabilizou apenas os dias (3) do seu pessoal (3), a 20$00 por dia (António Vieira, António Cardoso, e António Almeida), mais 1 do António Couto (20$00) e outro dia do Manuel Couto (15$00). Na parte que lhe tocava, escreveu o seguinte: José Carneiro, 1 dia, grátis.

O sr. Leite de Viadores – diz a Alice, sua filha  – era “fidalgo”, tinha rendeiros, várias quintas, era casado com uma professora, e tinha duas filhas, que iam à missa “todas pintadas”, e com lugar especial na igreja, apartadas do resto do provo cristão… Era amigo do José Carneiro. Segundo o Zé, este sr. Leite será o mesmo que lhe vendeu a propriedade da Carreira Chã, por volta de 1959, salvo erro, por 110 contos.

O José Carneiro também tinha “deferências” para com a Casa de Paredes (ou da Igreja), que era de gente “fidalga”, os maiores proprietários da freguesia, que faziam o favor de ser “seus amigos” (muito em especial a Dona Maria do Carmo, que morreu já depois do 25 de abril).

Na altura das vindimas, geralmente em outubro, o José Carneiro era contratado como “feitor do vinho”, supervisionando a descarga das uvas e a feitura e a medição (“feitoria”) do vinho nos lagares das diversas quintas da Casa da Igreja, arrendadas em regime de parceria agrícola (e anualmente renováveis pelo São Miguel).
- Formavam-se grandes comboios de carros de bois carregados com pipas de vinho, em direção à Casa da Igreja, na época das vindimas. - lembra o filho mais novo, o Zé.

A Casa de Paredes tinha dezenas de quintas. Havia um feitor geral que escolhia depois, geralmente por freguesia, um homem da sua confiança para zelar pelos interesses da Casa (o pagamento das rendas eram em géneros, sendo o vinho e o milho os produtos mais importantes na época).

Aqui ficam 5 registos de recibos que o José Carneiro passava anualmente, relacionados com esta atividade “liberal” de “feitor do vinho” (1953- 1957):

(i)                  16 de outubro de 1953: Casa de Paredes – Vinho, 28 dias, a 25$00 por dia, 700$00. Sobrinhos da Casa, 12 dias, a 20$00 por dia, 300$00. Total: 1000$00;
(ii)                31 de outubro de 1954 Casa de Paredes – Vinho,   15 dias, a 25$00  por dia, 375$00. Sobrinhos da Casa,   5  dias, a 25$00 por dia, 125$00. Total: 500$00;
(iii)               11  de outubro de 1955: Casa de Paredes – Vinho, 20 1/5 dias, a 25$00 por dia. Total: 572$50;
(iv)              18  de novembro de 1956: Casa de Paredes – “Sobas e feitorias do vinho”, 16 dias, a 25$00 por dia. Total: 400$00;
(v)                26  de outubro de 1957:  Casa de Paredes – “Sobas e feitorias do vinho”, 10 dias, a 25$00 por dia. Total: 250$00.

 José Carneiro tinha “olho para o negócio”. A compra dos materiais (fio, esteios...)  era, em geral, por conta do dono da obra, como já se disse acima. Nos seus honorários como ramadeiro, incluía também “o desgaste das ferramentas”. Numa obra, em Amarante, para o sr(a). “D. Costa Santos”  (?), ele faturou um valor de 742$30, incluindo despesas de pessoal (ele, o filho António, o sobrinho Américo e mais oficiais, Armando Cardoso e António Vieira) e de comboio (106$30). Em “nota de rodapé” escreve no duplicado, a tinta azul: “Obra [con]tratada por 2000$00. Gainho (sic) por fora,  1250$00)"... Não se sabe se os materiais eram foram fornecidos pelo proprietário, embora nos pareça que sim.

Num outro trabalho para o Dr. Leal Olibeira (sic) (, ao que parece, no Marco de Canaveses, segundo informação do Zé),   o José Carneiro faturou, só por sua conta, 16 dias a 50$00 (vd. fotocópia do recibo, foto nº 1). Todo o restante pessoal (António Vieira, António Couto, João Magalhães,  Francisco Leitão, José de Sousa ) ganhava 20$00 por dia, com exceção do José de Sousa que auferia sempre mais (25$00). Há também dois meios dias   por conta do “carreto do material” (sic), no valor de 90$00. O total da obra foi de 2185400, mais ou menos equivalente a duas semana de trabalho. Os recibos (dois) são de 30 de dezembro de 1953 e 16 de janeiro de 1954. 

É preciso esperar pelo ano de 1961 (20 de janeiro) para encontrar outro recibo (passado a José Diogo Sampaio, que também não sabemos quem é) com os honorários de 50$00 por dia, o máximo da tabela...

Nesta época (início dos anos 60), José Carneiro fez vários trabalhos para a Casa de Paredes, como ramadeiro, faturando o seu trabalho  a 45$00 por dia. Provavelmente ele fazia uma atenção para os seus amigos da Casa da Igreja, gente que de resto tinha muita confiança e consideração por ele, muito em particular a sra. D. Emília, herdeira da D. Maria do Carmo. Nessa época o seu oficial mais bem pago era o António Vieira: 28$00 por dia.

 Alguns dos trabalhos para a Casa de Paredes que consegui apurar, através da caderneta de recibos:

(i) 7 de fevereiro de 1959 (dois recibos): total: 4412$50 (José Carneiro tem 32 ½ dias a 35$00 por dia, e o António Vieira 37, a 26$00, fora o restante pessoal, incluindo o Manuel F Carneiro, 36 ½ dias, a 18$00 por dia);

(ii) 18 de abril de 1960: total: 1235$00 (José Carneiro, 8 dias, a 35$00 por dia; o António Vieira, 13 ½ a 26$00, e o Manuel F. Carneiro, filho do patrão, a 22$00, o mesmo que os restantes ajudantes: Adriano Carneiro, Alfredo Pereira, Agostinho B (‘);

(iii) 18 de fevereiro de 1961: total: 3885$50 (José Carneiro, 22 1/5, a 45$00 por dia);

(iv) 22 de fevereiro de 1961: total; 1399$00 (José Carneiro, 11 dias, a 45$00 por dia) de abril de 1961: total: 279$50 (José Carneiro, 1 1/5 a 45$00 por dia, o António Vieira 2 dias a a 28$00 por dia, o Manuel Couto 2 dias a 25$00 por dia, e o Manuel F. Carneiro, também dias a 23$00 por dia);

(v) 2 de janeiro de 1962: total: 2921$50 (José Carneiro, 19 1/5 dias a 45$00 por dia, com o António Vieira a 30$00 e o restante pessoal, incluindo o filho a 26$00…

Estranha-se que neste período não apareçam referências a obras longe de casa... Havia temporadas (não sei se neste período) em que o José Carneiro, com pelo menos um dos seus filhos, e vários elementos da sua equipa, iam por períodos relativamente longo, fazer ramadas na região do Douro. O Zé falou-me de um delas, no Pocinho, por volta de 1963/64, numa quinta do sr. Montenegro, da Casa de Manhuncelos, amigo do José Carneiro e pessoa politicamente influente na região. 

-Só vínhamos a casa no fim do mês. Comíamos e dormíamos lá. - informou o Zé.

O Gusto confirma-me que terá sido a única obra que o nosso sogro fez na região do Douro. A propriedade está hoje submersa pela barragem do Pocinho. O proprietário sabia que estava a valorizar os terrenos, com a construção de uma grande ramada.

Em 1978, de acordo com uma das suas agendas que chegaram até nós, o José Carneiro ainda trabalhava, sempre sazonalmente, como ramadeiro, profissão que o "pai-patrão" não conseguiu passar a nenhum dos filhos rapazes (António, Manuel e José) que escolheram a cidade para viver e trabalhar (e temporariamente a emigração, no caso dos dois primeiros) .

Dos seus assalariados, houve um, pelo menos, que se transformou em em empresário no ramo, o José de Sousa (também conhecido como Zé do Celeiro). Segundo a Alice, o pai trabalhou praticamente até ao fim, ou seja, até ter tido um AVC, em 1980, com 69 anos. Ofereceu a sua preciosa caixa de ferramentas a um ou mais  dos seus antigos colaboradores, como o Armanmdo Cardoso.  A família tem pena que as ferramentas do José Carneiro, ramadeiro,  tenham saído de casa e e se tenham dispersado.

Numa das pequenas agendas que ele usava para registar notas da sua atividade profissional (como ramadeiro, como agricultor e como negociante de gado), pode ler-se:

"José Carneiro - Ano de 1978: Gainho (sic) nas ramadas:
82,5 dias x [ ?] = 34525$00."

Nessa época, ele cobrava 400$00 e mais  por dia, como ramadeiro, o que era uma boa féria para a época, mas que reflectia já as tendências inflacionistas da economia portuguesa do pós-25 de abril. Veja-se um "apanhado" das suas contas nesse ano, conforme documentos avulsos que encontrámos no seu espólio (Fotos nº 2 e 3).


Foto nº 2 - [1978]: Discriminação dos dias de trabalho do ramadeiro José Carneiro (82 1/5) e da equipa:   A. V. [António Vieira]: 44,5> A. Rx. [António Rocha ?]: 45,5; Ar. C. [Armando Cardoso]: 19,5; M. V. [?] [Manuel Vieira ?]: 22.


Foto nº 3- [1978]: Uma das últimas obras  que o José Carneiro deve ter feito, e em que gastou 22 dias, e pelos quais recebeu um total de 10325$00. Cliente: António [de] Ermezinde, telef. 972560.

Registe-se op facto de com ele continuarem a trabalhar companheiros dos anos 50 como os amigos e vizinhos António Vieira e Armando Cardoso. Ao longo destes anos, o José Carneiro ganhou honradamente o seu dinheiro e deu a ganhar, não havendo grande oferta de trabalho na freguesia de Paredes de Viadores. Foi uma atividade que ele exerceu, durante muitos anos, sem concorrência a nível local, e que lhe dava prestígio, a para da sua condição de proprietário rural, dono de duas quintas, Candoz e a Carreira Chã (esta arrendada a caseiros).

Luís Graça (com contributos do Gusto, da Nitas, da Alice e do Zé)


27 agosto 2012

Gente feliz... com uma lágrima ao canto do olho (14): Encontro da família Ferreira, Paredes de Viadores, 10 de julho de 2011

Encontro da Família Ferreira, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, 2011

Gerações

1ª João Ferreira (1821/1897), casada c/ Mariana Soares

2ª João Ferreira (1847/1918), casado c/ Maria Joaquina

3ª Balbina Ferreira (1876/1938, casado c/ José Nunes Ferreira (“Vitorino”)

4ª Os nossos avós: 


António Ferreira, casado c/ Amélia Rocha, 
Maria Ferreira, casada c/ José Carneiro, 
Rosa Ferreira, casada  c/ José Mendes,
 e Ana Ferreira, casada c/ Joaquim Cardoso (já todos falecidos), 

sendo o mais velho António, nascido em 1910, e a mais nova, Ana, nascida em 1917.

Somos muitos, mais que as mães,
Ana, Rosa e Maria,
Nascidas em Fandinhões,
Muy antiga freguesia.

Muy antiga freguesia
Do ex-concelho de Bem Viver,
Onde Ferreira era família,
Gente de ser e de parecer.

Gente de ser e parecer,
Sendo António o varão,
No Brasil não quis morrer,
Vitorino, homenzarrão!

Vitorino, homenzarrão,
Filho de outro Vitorino,
O do chicote na mão,
‘Inda mais bravo e mais fino!

‘Inda mais bravo e mais fino,
P’ra o salteador de estrada,
Armado em pobre menino,
Nesses tempos de fome danada.

Nesses tempos de fome danada,
Cresceram nossos avós,
E com tanta filharada,
Mimos só houve p’ra nós.

Mimos só houve p’ra nós,
Os da sexta geração, 
Cujos queridos trisavós
Foram Mariana e João!

Foram Mariana e João,
Uma Soares, outro Ferreira,
Deles seis filhos nascerão,
Todos com eira e com beira.

Todos com eira e com beira,
Rapazes e raparigas,
Três Soares e três Ferreira,
E o resto são só cantigas.

E o resto são só cantigas,
Os rapazes só Ferreira,
Os Soares, tudo ‘prigas,
Mas que grande trabalheira!

Mas que grande trabalheira,
A do nosso bisavô, peleiro,
Casado com lavradeira,
Neta de João, o primeiro.

Neta de João, o primeiro,
Que casou com a Mariana,
Bom rapaz, melhor olheiro,
Porque ela… tinha grana!

Porque ela tinha grana,
Comprou terras de Candoz,
E não contente, a magana,
Foi mais longe até Leiroz.

Foi mais longe até Leiroz,
E em Fandinhões casou neta…
Se aqui estamos todos nós,
Foi graças a essa avó esperta.

Foi graças a essa avó, esperta,
Tão velha como o Brasil,
Que temos janela aberta
P’rá vida, sendo mais de… mil.

P´rá vida, sendo mais de mil,
Os Ferreira, por esse mundo,
São uma família gentil…
A todos, xicoração fundo!

Paredes de Viadores, 10 de Julho de 2011 

[Quadras de Luís Graça]


Encontro da família Ferreira,
28 anos depois do 1º encontro em Fandinhães (1983).

Lembrando os que, a contar da 4º geração, 
a dos avós dos organizadores deste encontro, 
já partiram 
e de quem guardamos uma doce saudade

(i) António Ferreira, e Amélia Rocha,
Manuel Nunes Ferreira e Maria da Rocha, 

Balbina Nunes Ferreira, 
Jorge Carvalhais.

(ii) Maria Ferreira e José Carneiro,
Carmen Ribeiro,

(iii) Ana Ferreira e Joaquim Cardoso
Luísa Cardoso,

(iv) Rosa Ferreira e José Mendes,
 Nelo Mendes