23 dezembro 2023

No Natal de 2023: lembrando com (e)terna saudade aquela que, durante 40 anos, foi a rainha de Candoz (e da Madalena)


Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz> Quinta de Candoz > 23 de dezembro de 2023 > Uma "aguarela" natalícia... Foto: LG (2023)



Querida Nita:


Não imaginas a surpresa que te fizemos hoje!...

Amanhã não haverá ceia de Natal na Madalena,

Mas hoje estamos aqui reunidos em Candoz

Para te lembrar, e lembrar aos mais novos,

Que tu aqui foste a Rainha,

E que continuas a ser a Rainha,

Mesmo quando te queixavas

Que vinhas sozinha, com o teu Gusto,

Trabalhar que nem uma moira,

E mesmo já doente,

…Mas sempre com o teu sorriso lindo no rosto sofrido.



Nitas, ainda não chorámos todas as lágrimas,

Nem nunca choraremos todas as lágrimas por ti,

E já se passaram nove meses

Desde que em 24 de março nos deixaste,

Desamparados, órfãos, devastados, inconformados…


Resta-nos, Nita, a imensa saudade, a tua memória,

Que queremos manter viva.

Por isso estamos aqui, hoje, dia 23 de dezembro,

Em dia de trabalho, em Candoz,

Mas também para celebrar o nosso Natal

Em comunhão espiritual contigo.

É também a nossa maneira de continuar a fazer 

O tão difícil luto pela tua perda.


Era o Natal, a quadra festiva do ano

Que tu mais adoravas, mais do que a Páscoa!

Querias ter todo o mundo em Candoz e na Madalena,

A começar pelo teu Gustito,

Os teus filhos Filipe e Tiago,

As tuas noras, os Susana e Sofia,

Os teus netos, a Carolina e o João…

A Alice e o Luís vinham de Lisboa,

O Zé Soares e a Berta moravam ao teu lado,

E os teus manos, Tó, Rosa, Manel e Zé,

Também não estavam longe,

Estávamos todos vivos, e de razoável saúde, 

E visitávamo-nos alegremente uns aos outros.

O Zé trazia as pencas, na véspera,

E enchia a tua casa de ruidosa alegria,

A Alice encarregava-se do lume,

E dos panelões onde, na garagem,

Se coziam, carinhosamente,

As batatas, as pencas, o bacalhau lascudo.

Tu punhas o teu maior esmero, capricho e arte

Na feitura dos doces,

E nos arranjos da sala e das mesas…,

E nas boas-vindas aos convivas…

Nunca faltavam os bolinhos de “corn-flakes”

A aletria quentinha, o arroz doce, o leite creme,

E as rabanadas, que eram tarefa da Berta…

Este ano faltas tu, pela primeira vez,

E falta também o Zé Soares,

Nas nossas vidas, no nosso Natal.



Este ano não há mais freima de Natal para ti!

Mas fizemos questão, todos aqueles e aquelas

Que te amaram e continuam a amar,

De nos sentarmo-nos à grande mesa mesa em L,

À hora do almoço, depois do trabalho da poda,

Para te dizer que o espírito de Candoz,

Que tu sempre viveste e representaste como ninguém,

Ao longo de quase quatro décadas,

Continua vivo e a inspirar a geração seguinte

Dos nossos filhos e sobrinhos.



Nita, podes continuar a ter orgulho

No teu Gusto, nos teus filhos, nos teus sobrinhos,

Em todos nós que aqui estamos:

Enquanto ainda secamos as lágrimas,

E suspiramos por ti,

Prometemos também nunca te esquecer

E manter vivo o teu testemunho, o teu exemplo de vida,

Tu sempre personificaste o dom,

A doçura, o prazer e a alegria de dar e receber.

Temos uma bela surpresa para ti 

No próximo dia 24 de março de 2024.

Até lá reza por nós!  E protege-nos!

E, em nosso nome, deseja 

A todos aqueles, homens e mulheres, que foram das tuas relações,

Um Bom Natal de 2023 e um Melhor Ano Novo de 2024

Quinta de Candoz, 23 de dezembro de 2023,

Os presentes:

Gusto, Filipe, Tiago,Suzana,Sofia,Carolina e João;

Alice e Luís;

Zé, Pedro, Adriano;

Zezinha, Eduardo, João, Mara, Catarina, Marcelo e Manel;

Cristina,Miguel,Francisco;

Miguel, Daniela, Clara.



02 novembro 2023

Miguel Soares (1973-2020): três anos de saudade


Espanha, Santiago de Compostela > 11/06/2016 > Da esquerda para a direita, Miguel, Berta (mãe), Sandra (irmã) e Zé Soares (pai)



 Espanha, La Toja >  10/06/2016 em La > O Miguel, à esquerda com os pais e a irmã. Se fosse, teria efeito 50 an0s, em 6 de setembro. Nasceu em 1973. E lutou 3 anos contra a doença que o vitimou. É justo recordá-lo no nosso blogue, que é de toda a nossa família alargada. 

Fotos do álbum da Sandra (2023)



In Memoriam, Miguel Soares!


Queridos Zé, Berta, Sandrinha, Rui, Maria, Gusto, Nitas:

Acabam de perder um filho, um irmão, um pai, um sobrinho. Não há dor maior do que essa. É uma parte de vós que a morte vos rouba. E vão passar a ficar amputados, para sempe, dessa parte de vós. O Miguel, filho, irmão, pai, sobrinho, era essa parte de vós.

Nada será como dantes. Há o antes e depois. Quando a morte nos bate à porta, é para entrar e levar um de nós. É a tragédia que se abate sobre a família. Tudo foi tentado para arrebatar o Miguel das garras da morte. Ela foi mais forte que a medicina, a ciência, o IPO, os profissionais de saúde que o trataram, e aqueles que rezaram por ele, que cuidaram dele, que foram seus amigos. 

 Foi um duro combate, e nós somos testemunha, à distância, é verdade, dessa luta desigual, em que o Miguel foi um herói. Ficará para sempre, na nossa memória, o seu sorriso, bonito, penoso é certo, mas ainda esperançoso, quando o abraçámos pela última vez, na vossa casa, em fevereiro passado.

O Miguel foi aquele menino que vimos crescer e fazer-se homem e tornar-se pai, ao longo dos mais de 40 anos que já levam o nosso convívio com a vossa família, no Porto e na Madalena. Não o vamos ver mais à mesa, na festa de Natal, mas no próximo, se nós lá chegarmos, e se nós pudermos passá-lo convosco, aí na Madalena, vamos pôr o seu lugar à mesa, em lugar de honra.

E há um difícil luto a fazer. Mas que tem de ser feito. Para que o Miguel fique, em paz, na vossa e na nossa memória como filho, irmão, pai, sobrinho, primo, companheiro, amigo. O Miguel foi um exemplo, nobre, estoico, de resiliência, de resistência e de dignidade na doença, na dor e na morte.

Infelizmente, ele parte para a sua última viagem ainda em plena pandemia de COVID-19 quando não nos é possível estarmos todos juntos para o último adeus, e darmo-nos conforto uns aos outros através dos nossos beijos e abraços. 

Mas as palavras que nos enviamos levam todo o calor humano e toda a solidariedade na dor que, à distância, conseguimos exprimir, ainda sob o choque da notícia da sua morte, já pressentida mas temida. Nunca estamos preparados para este momento terrível das nossas vidas, que é a notícia da morte daqueles que amamos.

Vamos recordar o Miguel como um homem bom, um filho, um irmão, um sobrinho, um pai, um amigo, que tinha ainda meio caminho da vida para fazer, com muitos sonhos e projetos, e sobretudo com todo o direito a ver a sua querida Maria a crescer e a tornar-se uma grande mulher.

Vocês sofreram muito com a sua doença. E estão a sofrer com o seu desaparecimento físico. E os próximos tempos vão ser de um grande vazio. Nada trará, porém, o Miguel de volta, a não ser as boas memórias que temos dele, desde menino. É já grande a saudade que temos dele.

Vamos continuar a falar do Miguel, como se ele continuasse a conviver connosco e a falar connosco, com aquela serenidade reservada mas sempre cordial com que ele gostava de estar em grupo. Faz-nos bem falar com os nossos queridos mortos. O Miguel vai continuar a fazer parte do circulo íntimo da família e dos amigos.

Até sempre, querido Miguel!

Luís e Alice (, com um chicoração muito terno também do João e da Joana, que estão em Lisboa)

Lourinhã, 27 de maio de 2020

01 novembro 2023

José Soares (1945-2023): dois meses de saudade (Sandra)


O Zé Soares e a família, no Alqueva no dia 9 Abril 2022 ( dia em que a filha, Sandra, enfermeira, fazia 50 anos)



Praga, República Checa, 8 de setembro de 2022: uma "selfie", da esquerda para a direita, Berta, Zé Sandra e Rui


Porto, Faculdade de Economia, 1 de maio de 2022, no dia da festa da formatura da neta, Leonor, ou festa de finalistas. Da esquerda para a direita, o Rui, o João, a Leonor, o Zé, a Berta e a Sandra


Maia, na casa da Sandra e do Rui, Noite de Consoada, 24 de dezembro de 2021: O Zé Soares, com a esposa, Berta, a filha Sandra e os netos Nonô (Leonor) e João


1. Palavras ditas na missa de corpo presente do José Soares (1945-2023), no 2 de setembro de 2023, na igreja paroquial da Boavista, Porto

Pai,


O dia que sempre temi, chegou...

Tive sempre receio deste momento... quando tomei conhecimento do diagnóstico da tua doença,  procurei preparar-me para um desfecho doloroso de imaginar e muito difícil de aceitar.

Encontrei algum consolo em recordar como foste um excelente pai, marido, avô, irmão, cunhado, sogro, amigo e colega. 

Estiveste sempre presente e disponível para todos nós.  O meu/ nosso muito obrigada por tudo quanto fizeste por todos.

Nestes últimos meses tudo foi feito para te acompanhar e proporcionar o conforto possível num contexto de sofrimento.

Embora sabendo que tinhas momentos de dor e de incerteza quanto ao futuro, ainda assim, gostaríamos de ter-te junto a nós durante mais tempo.

Espero que, onde quer que estejas, possas estar em Paz e que sejas mais uma estrelinha no céu a olhar por nós. Em noites de céu estrelado olharei para o céu para te ver a ti e ao Miguel. Estarão os dois juntos até ao dia em que todos nós nos voltarmos a encontrar.

Até sempre meu pai.

Sandra, em nome de toda a família, Berta, Rui, Leonor e João


24 outubro 2023

Nitas (1947-203): 7 meses de saudade (Chita)

 


Nitas, na praia de Azenhas do Mar, Sintra, ao pòr do sol, o último do ano, 31 de dezembro  de 2018

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição:  Blogue A Nossa Quinta de Candoz]



Nitas, minha querida mana:

É dia 24.  Faz 7 meses que partiste.

Não tenho (nem preciso de ter) o teu código postal. Falo diretamente contigo, quase todos os dias. Mas tu nem sempre me respondes. Aliás, estás quase sempre calada. E eu tenho tanta necessidade de te ouvir. De falar contigo e de te ouvir. E para mais agora que está a chegar o inverno…  

Sinto a tua falta: sem ti, sem o toque do teu telelelé, sem as fotos que me mandavas, ou  sem as nossas videochamadas que fazíamos, estou mais só… Fazes-me muita falta. Não quero ser egoísta. Fazes falta a todos nós… E isso só quer dizer que te amávamos muito. Nós e os teus amigos que te continuam a recordar com muita saudade.

Eu insisto em dizer à Clarinha que “a tia Nitas foi para a estrelinha”… E eu própria já me convenci de que tu tens, afinal, todo o céu por tua conta. 

Fico mais calma quando à noite vejo o céu estrelado, e posso contar as tuas estrelinhas… Numa interminável viagem pelo universo, todas as estrelas são tuas. Escolho sempre algumas mais especiais. 

Preciso dessa magia, Mana. Boa noite, acho que hoje vou dormir melhor depois de “falar contigo”…

Tua Chita, Alfragide, 24 de outubro de 2023

 _______________

Poema dedicado a minha querida e saudosa Maninha que faz hoje 7 meses que partiu. São tantas as saudades que me deixa sem chão!!!

Um poema de Ana Luísa Amaral que também já não está entre nós. Duas mulheres fortes do Norte que quero homenagiar.


Um Céu e Nada Mais


Um céu e nada mais — que só um temos,
como neste sistema: só um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul — como de tecto.
E o seu número tal, que deslumbrados
eram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tão de ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levíssimo toque de mistério.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovão que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caído.
Mas, de verdade: natural fenómeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
implodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais — que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em alto
risco), e a dança no trapézio
proibido, sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.


Ana Luísa Amaral (1956-2022)
 in “Às Vezes o Paraíso” ( Quetzal, 1998; reed. 2000)
 (com a devida vénia...)

24 setembro 2023

A alegria das vindimas de 2023, e a saudade da nossa Nita que partiu há seis meses

 


Quinta de Candoz > Vindimas  > 18 de setembro de 2020 > A Nita(s), a Mi (cunhada) e a Chita (Alice, irmã). Foto: LG (2020).


Querida mana Nita(s):

Fui fazer as três vindimas,  estive 18 dias em Candoz. Também estive a representar-te.  Sentia-se a tua presença tutelar.  Tu agora és a nossa "fada madrinha", como diria a ,minha Clarinhya.  Ontem andávamos todos felizes a vindimar, logo cedo, pela manhã (foi a última vindima).

Já sabes, por certo, do novo projeto a que metemos ombros em Candoz. O teu Tiago já “te falou” da ideia, linda,  que ele teve em mente para te homenagear através do vinho de Candoz. Não vou entrar em pormenores,  sem autorização do Tiago, porque “o segredo é a alma do negócio”…

Este ano tivemos uma boa colheita, em quantidade e qualidade,  mesmo sendo um ano complicado por tudo: as pragas do costume, mais o “black rot” (ou “podridão negra”), e a pior de todas, a tua partida!

Gostaste, por certo, de ver os teus filhos, todos entusiasmados a vindimar… Eu gostei muito . Então, o teu Tiago, vestido à camponesa!…

Vim ontem de Candoz, ao fim da tarde, direitinha à Lourinhã, foram quase 350 km, em três horas e meia… Vim cansada mas feliz por sentir,  ver e partilhar a alegria de todos, dos teus filhos Tiago e Filipe, do teu homem, o Gustito, do meu Luís (de máquina fotográfica em punho),  da tua neta Carolina,  do nosso mano Zé, dos teus sobrinhos, Zezinha, Eduardo, João, Diogo e  Francisco, além do nosso companheiro e amigo de muitos anos, o Adriano…

Tivemos a mesa cheia, como de costume. Até a Berta veio da Madalena com a Sofia e o teu Joquinhas…

Não posso deixar de deitar mais uma das  lágrimas que me restam,  pela tua partida, faz hoje justamente seis meses. Tantas coisas que ainda queríamos poder fazer juntas em Candoz!...

A vida (a vida, não, a morte!) pregou-nos a grande partida de te levar, sem sequer nos pedir licença!... Que crueldade, mana!... Ainda hoje não me conformo nem consegui fazer o luto!

Mas quero que saibas que continuamos falar contigo e a pôr uma florinha no cantinho da sala onde está o teu  retrato, tirado nas vindimas de há três anos.  Com o teu sorriso lindo, que nos encantava a todos/as!

A tua mana Chita.

Lourinhã, 24 de setembro de 2023.

 

11 setembro 2023

Vindimas de 2023: um cacho de uvas douradas e uma romã para a nossa querida Nita(s), com a nossa (e)terna saudade

 

Foto nº 1 > Quinta de Candoz >  Vindimas  > 18 de setembro de 2020 > A Nita(s), Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 1947 - Porto, 2023) (*)

Foto nº 2 > Quinta de Candoz > Vindimas  > 18 de setembro de 2020 > A Nita(s), a Mi (cunhada) e a Chita (Alice, irmã)

Foto nº 3 > Quinta de Candoz >  Vindimas  >  9 de setembro de 2023 > Um cacho de uvas douradas (1)...



Foto nº 4 > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > Um cacho de uvas douradas (2)...



Foto nº 5 > Quinta de Candoz >  Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > Os cachos  (arinto / pederná) que a Nita(s) adorava apanhar...


Foto nº 6 > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 >  A primeira de três vindimas...Este ano começou a vondimar-se mais cedo... Veio gente da Lourinhã, do Porto e de Matosinhos..., para dar uma mãozinha.


Foto nº 7 > Quinta de Candoz >  Vindimas  > 9 de setembro de 2023 >  A primeira de três vindima...Veio gente da Lourinhã, do Porto e de Matosinhos... Filhos, sobrinhos/as, sobrinhos-netos...


Foto nº 8 > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 >   Antigamente acarretava-se os "cestos de vime" às costas até ao lagar... Hoje, felizmente, o trator alivia-nos as costas...


Foto nº 9 > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 >   Tud0 gente da casa, da 2ª e 3ª geração...



Foto nº 10  > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > Cestos (de plástico...) cheios de uvas de castas (loureiro, avesso, algum alvarinho...),  que amadurecem mais cedo...



Foto nº 11 > Quinta de Candoz > Vindimas > 9 de setembro de 2023 > A "romãzeira da tia Nita(s)", na borda de um dos nossos campos... (Nome científico: Punica granatum)... Na foto, o nosso querido e inestimável Adriano.



Foto nº 12  > Quinta de Candoz  > Vindimas  > 9 de setembro de 2023 > As primeiras romãs maduras para a "tia Nita(s)"


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Queridos amigos,  deixem-me falar de outra das minhas geografias emocionais, que é Candoz, a Quinta de Candoz, ou Tabanca de Candoz, como eu também gosto de lhe chamar (falando para os leitores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné). 

Há quase meio século, desde 1975, que venho aqui, à casa  e à terra onde nasceu a mãe dos meus filhos. Por herança (e opção), somos sócios da Sociedade Agrícola de Candoz (unipessoal).  Havia momentos especiais do ano, festivos, em que não podíamos faltar: o Natal,  a Páscoa, as vindimas... Mesmo estando longe, a 350 km de distância, eu, a Alice, os nossos filhos, procuramos estar aqui em Candoz nessas datas...

As vindimas são um momento mágico e agregador das famílias que nasceram no campo e sempre conviveram com a terra e a vinha. Mesmo quando se partia para a cidade (Porto, Lisboa) e depois para o Brasil, a França e a guerra em África, Moçambique e Angola (como foi o caso dos très rapazes da família),  quem podia vir, vinha dar uma ajuda,  quem não podia vir, escrevia cartas ou aerogramas cheios de saudade...  

Dos seis filhos do casal José Carneiro e Maria Ferreira, quatro (três raparigas e um rapaz) decidiram constituir , nos anos 80, a Sociedade Agrícola de Candoz (unipessoal) e construir uma vinha inteiramente nova, nos solcalcos roubados ao longo dos séculos à floresta de carvalhos e castanheiros,  sustentados por grossos muros de pedra, e que estão na família Ferreira e depois Ferreira Carneiro desde pelo menos os primeiros decénios do séc. XIX. 

Era uma pequena exploração familiar projetada, há 40 anos, para produzir no máximo 20 pipas (c. 15 toneladas de uvas),  de vinho verde branco, das castas arinto/pedernã e azal (maioritariamente, mas também com videiras  de loureiro, alvarinho e avesso), a uma cota entre os 250 e 0s 300 metros acima do nível do mar.

Durante estes anos todos a nossa Nita (para o marido e os filhos) ou Nitas, "tia Nitas" (para os restantes familiares e amigos) foi a "alma" desta pequena comnunidade. A morte, traiçoeira, levou-a aos 76 anos, depois de trabalhar uma vida inteira como engenheira química no laboratório do Departamento de Engenharia Química do ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto (*)

Este é o primeiro ano em que fazemos a vindima sem a sua presença física. (Também a morte levou,  há uma semana atrás, outro familiar e amigo de Candoz, o José Soares, presença habitual nas nossas vindimas, ele e a sua esposa, a Berta.)

Nas duas primeiras fotos acima, de 18 de setembro de 2020, a Nita(s) já sabia o diagnóstico da doença que a haveria de matar, e a que não teria sido alheia a exposição profissional a substàncias cancerígenas no seu laboratório.  Estóica e digna na doença, e ainda em tempo de pandemia de Covid-19, a Nita(s) não deixava de nos brindar com o seu sorriso luminoso, a sua gentileza, a sua fotogenia, o seu carinho , a ternura, o amor, o desvelo, a entrega, a generosidade e a alegria que sempre pôs em tudo o que fazia, bem como nas relações que mantinha com  os outros. 

Foi fada e rainha deste lar.

Estas primeiras fotos da primeira vindima de 2023 (vamos fazer três, e no próximo fim de semana a maior) é dedicada à nossa querida Nita(s), figura tutelar da nossa Quinta de Candoz. Para ela vai um cacho de uvas douradas e a primeira romã madura que colhemos da sua romãzeira.

Luís Graça (2023) (**)

________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 26 de março de 2023  > Guiné 61/74 - P24170 : Manuscrito(s) (Luís Graça) (219): Na despedida da Terra da Alegria: à minha querida 'mana' Nitas, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 1947 - Porto, 2023)

(**) Último poste desta série, publicado no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné >  18 de agosto de  2023 > Guiné 61/74 - P24564: Manuscrito(s) (Luís Graça) (227) : Chita... Não vale a pena parar, / A vida é p’ra se viver, / Com momentos p’ra sofrer, / É tudo sempre a somar.

02 setembro 2023

In Memoriam: José Teixeira Pinto Soares (1945-2023)

 

O nosso querido Zé Soares. 

Foto; Sandra Soares Russo (2023)


In memoriam José Teixeira Pinto Soares (1945-2023)

 

Querido Zé Soares:

Que dizer perante a morte ? A morte deixa-nos sem palavras.

Mas tu tens direito a uma palavra. Não podes partir da terra que amavas sem uma palavra.

Uma palavra dos que te amaram e que também fizeram parte da tua vida.

Já tiveste, agora mesmo, as palavras de fé e de esperança cristãs, do celebrante desta cerimónia, sempre tocante, que é a missa de corpo presente. Resta agora a nossa palavra de homenagem e de despedida.

Temos para contigo o dever de memória e, mais do que isso, a obrigação de te manifestar o amor, a amizade, a estima e o apreço que tu mereces e que sentimos por ti. Para mais agora que partiste para a tua última viagem.

Zé,  foste um homem bom, mas discreto, humilde. Gostavas de ficar no teu cantinho. Mas,  por detrás dessa discrição e humildade, havia muito talento e bondade. Foste um homem bom, foste um bom filho, e depois pai, esposo, avô, amigo, irmão, colega, vizinho, cidadão, português. Foste um profissional de seguros competente, dedicado e honesto. E tinhas tudo para ser um grande artesão e artista, se tivesses dado asas aos teus sonhos.

Sempre pensei que poderias  ter trabalhado na arte do restauro nalgum dos nossos grandes museus nacionais. Trabalhavas a madeira com gentileza, poesia, arte e engenho. E só detestavas os pregos, confidenciou me o teu mano Gusto.  Era uma das tuas paixões, mesmo muito antes da reforma.

Mais do que tudo, eras um homem generoso, amigo do seu amigo, que sabia pagar a amizade com a amizade.

Sem sermos amigos íntimos, recordo os muitos natais e festas da páscoa, na  Madalena,  mas também vindimas em Candoz. Com as nossas mulheres, com os nossos filhos e netos a crescer,  ainda com os teus pais, com o teu mano, com a nossas saudosa Nitas, com o teu adorado filho Miguel.

Foram momentos muito bonitos e felizes das nossas vidas em comum. E eu nunca me esquecia de tI e dos teus nos meus versinhos festivos.

Estamos agora todos desolados com a tua partida precoce. Bolas, tinhas direito a viver ainda muitos e bons anos. Simbolicamente, partes no veleiro que há muitas décadas atrás montaste, peça a peça, com a tua infinita paciência, rigor e habilidade.  É o barco de Caronte, como eu gosto de dizer, e já diziam os gregos antigos.  O barco que também um dia destes nos há de levar a todos para a outra margem do rio,  mar, oceano, planeta ou galáxia, que agora nos separa, qualquer que seja a nossa crença ou o Deus a quem rezamos.

 Até lá, até nos juntarmos todos de novo, já tens aí ao pé de ti o teu querido filho Miguel (que nos deixou tão cedo!), os  teus pais, a nossa Carmen, a nossa Nitas…

 Deixas na Terra o teu ADN, o teu património genético. E sobretudo um rasto luminoso, como ser humano.

Zé, deixa-me  dizer-te por fim, que podes ter orgulho  nos  cá ficam. da tua família aos teus amigos.

Com a eterna saudade, do Luís e da Alice, e de todos de mais  presentes nesta celebração religiosa. Até sempre, Zé Soares!

Porto, igreja  paroquial de Nª Sra.  da Boavista, 2/9/2023.



25 julho 2023

A Nossa Quinta de Candoz e a nossa querida Nitas (1947-2023)




















~


Marco de Canaveses  >  Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 15 de Julho de 2023 

A Nossa Quinta de Candoz

A casa, 
a loja,
as pedras, 
os muros, 
o chão, 
as minas, 
os carvalhos, 
os castanheiros, 
os socalcos,
as letras, 
os carreiros,
a levada,
as vinhas,
as ramadas,
os montes... 

A Quinta de Candoz,
na posse da família Ferreira Carneiro, 
há pelo menos dois séculos. 
Uma estória de loas e cantigas, 
mas também de trabalhos (es)forçados. 
De pão e vinho sobre a mesa. 
De amor e de amizade. 

Rosa, Chita, Nitas (1947-2023), Zé, 
quatro dos Ferreira Carneiro, da 5ª geração,
mais as respectivas caras-metade
 (Quim, Luís, Gusto e Teresa). 

Pais fundadores: 
José Carneiro (1911-1996) & Maria Ferreira (1912-1995), 4ª geração

(...) João Ferreira (1821-1897) & Mariana Soares (1822-1895), 1ª geração

Fotos (e texto): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Mensagem do coeditor Luís Graça com data de ontem;

Meus / minhas queridos / as, Alice, Gusto, Zé, Rosa, Tiago, Filipe, João, Joana, Zezinha, demais cunhados e sobrinhos (sem esquecer o nosso Adriano que já é há muito da nossa família):

Candoz tem sempre mais encanto quando a gente lhe diz adeus, fecha o portão de ferro e regressa à nossa casa habitual, no Porto ou em Lisboa...

Todos desejamos e procuramos que continue bonita, mesmo sabendo quantos trabalhos (es)forçados isso tem implicado ao longo da vida da nossa e das anteriores gerações...

Mas há hoje, na magia daquele lugar e da sua memória, uma presença / ausência que não nos larga, a nossa querida e chorada Nitas...

Em todo o caso, acho que ela gostaria de ver e rever, no seu tablet, estas imagens que colhi há dias deste nosso cantinho,feito afinal de tantos pequenos (en)cantos, e que ela tanto acarinhou em vida...

E que eu me permiti partilhar, para um público mais vasto, no meu blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (sigam o link, até para ler eventuais comentários), ncluindo amigos que nos admiram e respeitam pela sabedoria, resilièncvia e coesão com que, tem ao longo já de meia vida, conseguido ultrapassar tantos obstáculos, contrariedades, desânimos, problemas e crises...

A Nitas foi sempre o elo mais forte da cadeia que nos uniu a todos. Uma pequena grande rainha, no seio da nossa família alargada... E acredito que, lá do "alto, ela (e os nossos antepassados mais próximos, os nossos "pais-fundadores") nos continua a proteger e a inspirar.

Beijinhos e xi corações. Luís

PS - Junto duas fotos tiradas no cemitério, no passado dia 15.





24 maio 2023

Para além da morte: Em memória da minha querida mana Nitas (Candoz, 15 jan 1947 – Porto, 24 mar 2023)



Foto: LG (2018)



Para além da morte… Em memória da minha querida mana Nitas (Candoz, 15 jan 1947 – Porto, 24 mar 2023)


Minha querida mana Nitas, passam hoje dois meses que a tua luzinha se apagou no meu firmamento…

Que saudades eu tenho de ti … Dois meses ?!... Para mim, para todos aqueles que te amavam e que te perderam, é um pesadelo, uma eternidade.

Mas eu queria dar-te notícias da Terra da Alegria, como diz o meu poeta. Fazem-me tanta falta as nossas longas conversas ao telemóvel… Lembras-te ?!...

Umas, a horas mortas, já eu estava na cama, e tu com insónias… ou à espera que chegasse o João Pestana… Sempre foste mocho, deitavas-te tarde e levantavas-te tarde…
Outras vezes, comigo e o Luís, no carro, a caminho de Lisboa, ou no regresso à Lourinhã. 

Púnhamos a conversa em dia, querida Nitas. Fazia-nos tão bem! Falávamos dos filhos, dos netos, dos maridos, dos manos, dos sobrinhos, eu sei lá… As mulheres, e para mais nós, que éramos duas almas gémeas, têm sempre com que conversar…

Infelizmente, nos últimos anos, falávamos mais das doenças de uns e outros…

Também foi bom para ti, Nitas, que sofrias tanto nos últimos tempos… Mas quando vinhas do hospital, depois dos tratamentos ou das transfusões, nem voz tinhas para falar a ninguém, nem a mim… Sim, querida mana, chegava a ser muito penoso… E eu muito sofria contigo… Mas no dia seguinte, já estavas toda rabitesa…Foste uma heroína...

O teu anjo da guarda, o dr. Ricardo Pinto, fazia milagres… Foi ele que te prolongou a vida… Ele e o teu Gustito,  o teu cuidador extremoso, inexcedível, incansável… Mais a tua força de vontade, a tua fé, a tua coragem… 

Ah!, Nitas, ainda podias cá estar, se não fora aquela maldita queda e o hematoma na cabeça… Eu sei que sempre me dizias, “Chita, todos temos a nossa hora”… A tua chegou, infelizmente,  bem mais cedo do que tu e nós queríamos.

E se tu amavas a vida, o teu Gustito, os teus filhos, os teus netos, a tua família!... Fazes-me chorar, minha mana querida!... Ainda choro pelos cantos… Sinto tanto a tua falta… E sinto raiva por te perder, ainda mais por a morte, injusta, te ter levado primeiro que a todos nós, irmãos, mais velhos do que tu…

Eu sei que tu,  lá do alto, bem intercedes e velas por todos nós… Mas eu queria poder tocar-te, ver-te, beijar-te, dar-te muitos abracinhos…Adormecer a falar ao telemóvel contigo…

Foi tudo junto, a pandemia, a tua doença, mais a distância, a separar-nos… A vida nunca sai como a gente a quer… Prega-nos partidas, troca-nos as voltas… Vê a minha sina: queria, agora poder viajar, como fazíamos antigamente, contigo, o teu homem, o meu… Mas, olha, estou aqui presa por causa dele, que tem de fazer fisioterapia todos os dias…

E o teu Gustito, coitado, esse também não está nada bem… Já não estava bem, quando o deixaste… Sei que ele continua em grande sofrimento, inconsolável e quase incomunicável… Temos trocado mensagens ao telemóvel e, mais raramente, falado.

Ah!, mana, não há palavras que nos consolem!...Mas não eu não quero desistir de poder falar contigo… Preciso de falar contigo… Dava um ano de vida para poder estar contigo um dia, algures no firmamento… 

Como diz o avô para a neta, explicando a morte em termos poéticos, “foste para a estrelinha”… E eu faço um esforço mental para te imaginar que estás algures numa estrelinha… Aponto o dedo ao céu, à noite, e sou capaz de te “ver”… Mas em milhões de milhões de estrelas, eu ainda não descobri qual é a tua…

Sei que não importa, é a estrelinha que a gente quiser… Posso imaginar que vives numa delas, ou mesmo em todas… Prometo ir mais vezes â varanda, à noite, para “falar contigo”. Acredito agora que me podes ouvir… mesmo que eu não te veja nem oiça… Vamos combinar, mana, fazer mais vezes este diálogo imaginado… 

Passaram dois meses, mana querida, e eu ainda não fiz (nme consigo fazer) o luto da tua perda!...

Lourinhã, 24 de maio de 2023, 

Com mil beijpos e chicorações da tua mana  Chita (e do Luís).