Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz >20 de outubro de 2012. Festa das bodas de ouro da Rosa e do Quim (1963-2012) > A família e os amigos, desde os netos aos sobrinhos, irmãos, cunhados, associaram-se à festa... "Fui fidalgo por um dia", disse o Quim, com o humor e a alegria que todos lhe reconheciam... Foto: LG (2014)
In Memoriam: Joaquim Vieira Marques Barbosa, "Quim" (1934 - 2025)
(1) Morreu o Quim. O nosso Quim. Companheiro da Rosa já há mais de 6 décadas. Rosinha, para os amigos e vizinhos do Padrão da Légua. Um casal que foi uma referência para a comunidade local, para crentes e não-crentes.
Quem não o conheceu o Quim, na igreja, no colégio, no compasso pascal, no centro social e paroquial do Padrão da Légua ?!
O Quim e a Rosinha. Para quem os amigos e vizinhos eram uma extensão da família. Sempre os conhecemos, amigos e hospitaleiros, com a casa cheia, a começar por filhos, sobrinhos e netos. Rosa Carneiro e Joaquim Barbosa, Rosinha e Quim. Casados desde 1962.
(2) Morreu o Quim, o nosso Quim. Pai da Zeza, da Cristina, da Natália, do Miguel. Um pai babado, um pai-galinha. Avô e bisavô. Teve esse privilégio, o de chegar a ser bisavô.
(3) Morreu o Quim. O nosso Quim. Nosso cunhado, tio e sócio da Quinta de Candoz. Foi mais de meio século de convívio. De cumplicidades. De coisas boas e menos boas. De operações ao coração. De bailes mandados. De "serviçadas" na vinha do Senhor e na vinha da Quinta de Candoz.
(4) Morreu o Quim. O nosso Quim. Nascido em 1934, tempo ruim em que grassava a pobreza, a doença, a tuberculose, a mortalidade infantil. Num tempo em que se dizia: "Esta vida não chega a netos, nem a filhos com barba".
Fez-se a ele próprio. E antes da PSP, no Porto, trabalhou na CP, o que lhe permitiu ter mundo, de Trás os Montes ao Alentejo. Um pouco mais de mundo, do que ele tinha nas faldas na serra de Montedeiras, em Regadas, Paço de Gaiolo, onde nasceu. Ou em Ambrões, onde os pais eram caseiros. Tempos duros, para uma família de rendeiros, de prole numerosa.
(5) Morreu o Quim. O nosso Quim. Falava com orgulho do pai e da mãe. E dos irmãos e irmãs. Tinha boas recordações de Lisboa onde se tornou benfiquista. Mas foi no Porto que viveu e criou os seus filhos. Venceu algumas duras batalhas. As da saúde.
(6) Morreu o Quim. O nosso Quim. Gostava de versejar, poetar, ler e escrever. E no blogue "A Nossa Quinta de Candoz", dedicámos-lhe alguns versos, bem humorados e brejeiros, muito ao seu jeito e ao seu gosto pícaro e folgazão. Deixem-me recordar algumas dessas quadras:
Aos seus 77 anos
(...) Mas que bela capicua,
Sete sete, de idade,
É uma espécie de gazua,
Qu' abre a porta à eternidade.
C'o Quim não há gente triste,
É alegre e folgazão,
Mesmo quando a Rosa insiste:
-Ó Quim, olha o coração!
E até mesmo no hospital,
Foi motivo de falatório,
Pondo a rir o pessoal
Lá do bloco operatório.
É meu sócio e meu cunhado,
Meu parceiro de Candoz,
Há meio século casado,
E estimado por todos nós.
C' os filhos é um ternura,
Nunca vi tal pai-galinha,
Coração sem amargura,
(E)terno amor da Rosinha.
Candoz, 26/7/2011
Aos seus 80:
(...) Tem uma ponta de vaidade,
Deus o fez e quis assim,
Foi do campo p'ra cidade...
E há de ser o nosso Quim!...
Nascido lá nas Regadas,
Lugar de Paços Gaiolo,
Tinha lábia p'rás casadas,
Co'as solteiras era tolo.
De olho azul marinho,
Deixou menina chorosa,
Quem por ele tinha um fraquinho
Era a nossa mana Rosa.
Dura vida, a de Ambrões,
Por causa de um tal mandjor,
Mas há mais recordações,
Lisboa foi a melhor. (...)
Candoz, 26/7/2014,
(7) Enfim, morreu o Quim. O nosso Quim. Estamos mais pobres, estamos tristes. Ele sabia que tinha alguns "defeitos de fabrico". Como todos nós. Mas o seu coraçãozinho chegou aos noventa e um, com a ajuda da medicina e do nosso Serviço Nacional de Saúde. Sorriu às vezes à morte com meia cara. No dia 20, pregou-nos a grande partida. Não deu para fazer festa de despedida.
(8) Morreu o Quim. O nosso Quim. Era um homem de fé. Onde quer que ele esteja, nunca estará longe de nós. E vamos guardar dele, no nosso coração, as melhores recordações de uma vida. De um bom homem. E de uma grande família.
Luís Graça, em nome de toda família de Candoz
Texto a ler pelo João Graça, na cerimónia fúnebre,
igreja do Padrão da Légua, Matosinho, 22 de novembro de 2025