Marco de Canveses > Paredes de Viadores > Festa da família Ferreira > 10 de julho de 2011 > Da esquerda para a direita: o Tiago (que fazia 29 anos), o Jorge Dinis, a Paul e, de costas, a filha mais velha da Paula e do Jorge, a Carolina ("Kika")
Marco de Canveses > Paredes de Viadores > Festa da família Ferreira > 10 de julho de 2011 > O Jorge e a Paula (Ana Paula, para os amigos)
Fotos do álbum das famílias Carneiro e Soares (2011)
Tanatório de Matosinhos > 27 de junho de 2017 > A despedida
Foto de Luís Graça (2017)
Oração fúnebre ao nosso
querido
Jorge Dinis (1962-2017)
Jorge Dinis (1962-2017)
Querido
Jorge:
Já
não estás entre nós
neste
princípio do verão do nosso descontentamento,
o barqueiro de Caronte
levou-te
para a outra margem.
Há
agora um rio a separar-nos
definitivamente,
a
separar os deuses e os heróis
dos
simples seres humanos, mortais.
Só
os primeiros têm o privilégio
de
fazer a viagem de ida e volta.
Mas
estamos todos aqui a despedirmo-nos de ti,
para
que esse rio não seja
o
do esquecimento e da ingratidão.
Em
termos poéticos,
é
uma imagem poderosa,
que
nos vem da antiguidade clássica,
essa
do rio Caronte
e
do seu barqueiro
a
quem os mortos têm que dar uma moeda
para
que os leve, em paz, para a outra margem.
Jorge:
a vida, a história, a geografia
aproximaram-nos
e separaram-nos.
Os
dois, tu e eu, nunca fomos íntimos
mas
tínhamos o privilégio de pertencer
a
uma grande família,
pelo
casamento.
E é em meu nome e de todos eles,
e, por extensão, em nome dos teus demais amigos
que eu te faço esta singela oração fúnebre
(ou elegia ou, talvez até com mais propriedade, elogio).
A
última vez que te vi foi há seis anos,
na
festa da família,
em 10 de julho de 2011,
acompanhado
das mulheres da tua vida,
as tuas "princesas".
Guardo de ti e das poucas fotografias que temos de ti,
a
serenidade do teu olhar,
o teu trato afável,
o teu fino sentido de humor,
o grande amor que tinhas pela tua família,
a paixão pela vida
e o prazer das coisas boas da vida.
Lembro-me
de ter estado contigo
também
nalgumas datas especiais,
como
as festas de Natal,
sem
esquecer o dia o teu casamento com a Paula:
levavam
já vocês a Carolina, ao colo!...
Dupla
festa de casamento e batizado,
e
que bonita que foi!
Deixa-me
recordar aqui os versinhos que te fiz,
em
nome dos tios e tias da família
Carneiro,
que
estavam na mesa seis,
com
os respetivos consortes,
Deixa-me
transcrever as três últimas quadras
que
rezavam assim:
(…)
Uma querida menina,
Diz
o pai, Jorge Dinis,
O
amor é uma mina
P'ró
economista f'liz!
P'ró
economista f'liz
Amor
vem sempre primeiro
A
Paula assim o quis,
Com
a benção do Carneiro
Com
a benção do Carneiro,
No
vale dos Raposinhos
Não
falte paz e dinheiro
A
este par d'amorzinhos. (…)
Depois
veio a Maria
para
completar a vossa felicidade.
Tiveste
tudo na vida ou quase tudo.
A tua morte deixa-nos agora devastados,
a
todos nós, teus familiares,
e aos teus amigos,
os teus "caros", como lhes chamavas,
aqui
presentes
para
te render a última homenagem
e despedir-se de ti.
É
sempre triste a despedida,
a
separação,
e,
pior ainda, quando não anunciada.
Um
dia destes,
num
qualquer dia de uma das Quatro Estações do Ano,
também
nós tomaremos lugar
nesse
barco do barqueiro de Caronte.
Mas
até lá, vamos teimar
em
continuar a ver-te
com
o teu ar sedutor,
com
a tua presença luminosa,
com
a tua facilidade em estabelecer
relações e amizades.
Falo
daqueles que te conheceram,
e
tiveram o privilégio de
lidar contigo,
a
começar pelas tuas mulheres,
que
muito te amaram e te amam.
E
aqui deixa-me
destacar
a nossa Paula
a tua Paula
por quem rezamos,
para que não lhe falte a fortaleza dos rochedos
das praias de Gaia,
nesta
hora de grande provação,
bem
como as tuas filhas Carolina e Maria
cujo
amor e coragem
passarão
a ser uma referência
para
todos nós.
A
última consolação que nos resta
é a de saber que, se há um lugar
para
os humanos
no condomínio de luxo dos
deuses,
lá
no Olimpo,
tu
já ganhaste esse lugar,
por decisão nossa e mérito teu em vida.
Quando
também chegar a hora
da nossa partida
no
barco de Caronte,
haveremos
então, todos juntos,
de
reatar as conversas
que
a tua morte estupidamente interrompeu.
Foste
à frente de todos nós,
mas a tua vida iluminou-nos
e a tua nobreza na adversidade
engrandeceu-nos,
a todos nós,
teus familiares e amigos.
Jorge,
temos muito orgulho em ti!
E,
no entanto,
quantos
projetos não ficaram ainda
por
concretizar,
meu
amigo!
E
se tu tinhas ganas
de
viver,
de
vivê-los,
com
a tua Paula
com
as tuas filhas Carolina e Maria
com os teus amigos!...
Com a tua Carolina, a tua Kika,
que quer ser médica
e há-de ser um grande médica,
para orgulho teu
e de todos nós!
Guardaremos
connosco
as
melhores recordações
do
melhor de ti,
tu
que foste um homem inteligente
e bom
e generoso
e amigo do seu amigo!
Quem
fica do lado de cá,
separado
por esse rio intransponível,
fica
sempre desolado e inconsolável
pela
perda irreparável
que
é a morte,
a tua morte,
a qual é também a nossa futura morte.
Quem
fica do lado de cá,
como
nós,
fica
a dizer-te adeus,
numa
despedida
que
é sempre breve,
porém
dolorosa,
tingida
já da agridoce saudade,
que
dizem ser tão típica dos portugueses.
Os
teus amigos de Gaia e do Porto
e de todos os lugares do mundo
onde
foste feliz,
ficam
no cais do rio Douro a dizer-te a adeus,
convencidos
que partiste apenas
para
outra cidade noutro
continente,
ou noutra outra
galáxia.
Como disse um amigo teu,
com dolorosa ternura, no Facebook,
com dolorosa ternura, no Facebook,
vamos supor que mudaste apenas
para o andar de cima
da casa dos teus sonhos no vale dos Raposinhos.
Leva
contigo estas últimas palavras
dos
teus amigos e familiares,
que
elas te ajudem a atravessar o Caronte,
e a fazer boa viagem.
De
regresso a casa,
vamos
ajudar as tuas "princesas",
a suportar um pouco melhor,
a tua trágica partida.
a dulcificar as lágrimas de sal,
a fazer o luto,
a construir a ponte sobre o Rio de Caronte.
É
por isso que aqui estamos,
é para isso que servem a família
e os muitos e bons amigo que tu tinhas
(e continuarás a ter) .
Até sempre, Jorge!... Ou até logo!
Tanatório
de Matosinhos, 27 de junho de 2017, 11h
a) Luís Graça, em nome da família Carneiro
e demais amigos
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