09 outubro 2005

Cancioneiro de Candoz (II): É a vida que renasce...














II Parte > Mais loas (ao clã e aos amigos da família Carneiro e da Quinta de Candoz)



1
P’ra acabar esta história
Muita gente falta ainda;
E p’ra que fique a memória,
Saudemos a Dona Olinda.













2
Saudemos a Dona Olinda
Mais o seu neto Luís;
A esta casa é bem vinda,
E não é o Zé que o diz.


3
E não é o Zé que o diz
Nem tem que o dizer:
Se a Teresa assim o quis,
É mesmo para valer.
















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É mesmo para valer
A palavra de um amigo;
Nós gostamos de o cá ter,
Senhor Pinto, é o que lhe digo.

5
Senhor Pinto, é o que lhe digo,
A si e à sua esposa:
- Avô é fixe, estou contigo,
Mais a avó que é carinhosa.


















6
Mais a avó que é carinhosa,
Assim pensa o Tiago,
Que n’é ovelha ranhosa,
É um Carneiro do carago.

7
Um Carneiro do carago
Também é o Quicas, sim,
Há-de vir da China gago,
Ou a falar mandarim.












8
Ou a falar mandarim,
Que é língua de gente esperta.
E p’ra animar o festim
Estão cá o Zé e a Berta.

















9
Estão cá o Zé e a Berta,
Da família também são:
A porta está sempre aberta,
E na mesa há vinho e pão.

















10
E na mesa vinho e pão,
Mais o anho da Maria;
Em chegando o Verão,
É que vai ser correria.


11
É que vai ser correria,
Não sei se p’ra bem, p’ra mal:
Mas com tanta mordomia,
É só turismo rural.
















































































































12
È só turismo rural
E eu já tenho uma suite,
Mobília imperial
E uma crise de gastrite.


13
E uma crise de gastrite
Por causa do turistame
Que vem cheio de apetite
P’ra dar cabo do vasilhame.


















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P’ra dar cabo do vasilhame
E beber o vinho novo;
Não há ninguém que me chame,
Isto ‘tá cheio como um ovo.

















15
Isto ‘tá cheio como um ovo,
Não há nada p’ra ninguém,
Mas o coitado do povo
P’ra férias não tem vintém.


16
P’ra férias não tem vintém,
Nem a Rosa aluga o quarto;
O melhor é o armazém
Da coop’rativa do Marco.
















17
Da coop’rativa do Marco
De que a gente até é sócio.
P’rós que vierem de barco
Talvez se faça negócio.


















18
Talvez se faça negócio
Em turismo de habitação:
Mas como, se o tempo d’ócio
É p’ra... lixar o coirão !?















19
É p’ra... lixar o coirão,
Nem é coisa razoável:
Era muita indigestão
Servir ao almoço sável.


20
Servir ao almoço sável
Com criado de libré,
É de todo impensável,
Davam cabo do estaminé.


21
Davam cabo do estaminé,
Que é casa de gentes boas:
- Eu não estou a ver o Zé
Co’uns turistas das Lisboas!















22
Co’uns turistas das Lisboas,
Eu, embrulhado num fraque,
A ouvir as suas loas,
Ainda m'dá o ataque.


23
Ainda m'dá o ataque,
Um ataque de coração;
Isto é pior que o Iraque,
Os convivas aí estão:















24
Os convivas aí estão,
Só p’ ro mor do arroz de forno;
Se o anho não chegar,
Sempre se arranja um corno.


25
Sempre se arranja um corno
P’rós amigos que hão-de vir;
Não havendo arroz do forno,
Põe-se a ovelha a parir.

















26
Põe-se a ovelha a parir,
Se o Manel tiver ovelhas:
O caso não é p’ra rir,
Que a gente deu cabo delas.


27
Que a gente deu cabo delas,
Excepto o Gusto e a Joana:
Um nem cheirá-las nem vê-las;
A outra, leva-las p’ra cama.


28
A outra leva-las p’ra cama,
Gosta muito dos animais:
- Há gente muito sacana,
Mais parecem canibais.

















29
Mais parecem canibais,
Assim pensa o doutor,
Que das artes musicais
É o nosso professor.


30
É o nosso professor,
Mas ainda é muito novo;
Outro que é tocador,
Não se mistura com o povo.


31
Não se mistura com o povo,
O malandro do tunante:
Na China come um ovo,
Aqui tinha espumante.
















32
Aqui tinha espumante
P’ra brindar à geração
Que do trabalho é amante
E nos deu esta lição.


33
E nos deu esta lição:
A gente sonha, a obra faz-se;
Com a força da união,
É a vida que renasce.













34
É a vida que renasce
Nesta pedra, neste chão;
Não temas que ela se gaste,
Se a viveste com paixão.

(In memoriam dos pais fundadores desta casa, José Carneiro & Maria Ferreira)

Texto de L.G.; créditos fotográficos: © Luís Graça (2004 e 2005); 
© Augusto Pinto Soares (2005)


Candoz, Setembro de 2004/Maio de 2005


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