Foto (e legenda): © Luís Graça (2025).
1. Caros leitores: todos os dias a malta tem de comer, mal ou bem... Mas, parece, que cada vez pior, diz o povo...E ele há coisas que vão desaparecendo das nossas mesas: caça, peixe, marisco, vitela, queijo e requeijáo de Serpa... Quem é que lhe chega
Com a pandemia de Covid-19, a malta habituou-se aos enlatados: atum com grão de bico, cavalas em óleo de girassol, sardinha em óleo picante com pickles, etc. E aos congelados... Mas, feitas as contas ao quilo, até o raio das conservas de peixe estão pela hora da morte...
Até os petiscos dos pobres passaram para o cardápio dos ricos, do bacalhau ao polvo, do berbigão à sapateira, do sável à lampreia...
Será que ainda se fazem as "iscas com elas" ? E ainda há quem faça "tomates de carneiro" ?...O que desapareceu, do nosso tempo, foram também as tascas, com serradura no chão e pipos de tinto carrascão na parede, mesas de tampo de mármore e mochos de madeira em vez de cadeiras de plástico...
Mas estamos numa época boa para certos "petiscos" como as favas suadas, as "casulas com butelo" ou o sável frito com acorda de ovas... Foi o que a nossa "chef" Alice fez para celebrar os dois mesinhos da segunda neta, a Rosinha (em 23 de março)... Dizem os comensaios que foi comer e chorar por mais (o sável foi generoso, tinha dois quilos e meio e trazia as ovas...).
Era um "prato" que se comia à mesa dos pobres, na Quaresma, por duas razões:
(i) era a altura do sável subir o rio Douro para desovar (ainda não havia barragens);
(ii) os pobres não compravam a bu(r)la ao senhor abade, os "rendeiros" não podiam comer carne mas precisavam de proteína para trabalhar as terras do seu "senhor e amo", o sável vendia-se de porta em porta, enfiadas num longo varapau, tinha muitas espinhas, era preciso engenho, arte e paciência para o saber cortar fininho e fritá-lo em azeite...
Ele há coisas que não há no céu... E que não preço. E que, por isso, náo passam pelo estreito dos bilionários... E uma delas é seguramente a açorda de ovas com sável frito, com um toque muito especial do alho e do coentro (que era do Sul, dos ganhões, e que por isso não ia à mesa do rei)...
Tudo à moda da "Chef" Alice, segundo uma receita antiga da família da Quinta de Candoz, que ainda é do tempo do extinto concelho de Bem Viver e das pesqueiras do rio Douro que tinham foral do senhor Dom Manuel , o Venturoso.
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Nota do editor LG:
Publicado outra versão no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > 27 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26623: No céu não há disto: Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (47): Um prato duriense, que se comia na Quaresma, "sável frito com açorda de ovas" (e que vai bem com o "Nita", da Quinta de Candoz, um DOC verde, branco, colheita selecionada, 2023, diz a "Chef" Alice)
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