Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Capela de N. Sra. do Socorro >
25 de julho de 2015 > Esta capela remonta ao séc. XIX, estando erigida num dos pontos altos do território da freguesia...
Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Capela de N. Sra. do Socorro > 25 de julho de 2015 > Interior, com os andores, prontos para a procissão de domingo, dia 26...
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)
1. Há festa na aldeia... No sábado para domingo, ao darem as 24 badaladas, rebenta o monumental fogo de artifício que é, de há muito, um dos momentos altos desta festa popular... São quase 30 minutos de fogo... Ninguém sabe quanto custa ( a preços de hoje, talvez 20 a 30 mil euros)... Todo o povo contribui generosamente para este e outros encargos da festa de N. Sra. do Socorro, a sant padroeira.
Terras antiquíssimas estas, com forte tradições de que são guardiãs e continuadoras as nobre e valentes gentes entaladasbentre o Rio Tâmega e o Rio Douro.
Estas festas fazem parte dos "nossos seres, saberes e lazeres" e são acarinhadas pelo pessoal da Tabanca de Candoz... Nunca é de mais lembrar, por outro lado, que o extenso concelho do Marco de Canaveses pagou um pesado imposto em sangue, suor e lágrimas durante a guerra colonial, tendo 45 dos seus filhos lá morrido, em terras de Angola, Guiné e Moçambique.
Terras antiquíssimas estas, com forte tradições de que são guardiãs e continuadoras as nobre e valentes gentes entaladasbentre o Rio Tâmega e o Rio Douro.
Estas festas fazem parte dos "nossos seres, saberes e lazeres" e são acarinhadas pelo pessoal da Tabanca de Candoz... Nunca é de mais lembrar, por outro lado, que o extenso concelho do Marco de Canaveses pagou um pesado imposto em sangue, suor e lágrimas durante a guerra colonial, tendo 45 dos seus filhos lá morrido, em terras de Angola, Guiné e Moçambique.
A população do concelho era na altura de 39,3 mil (em 1960) e 42,1 mil (em 1970), Sabendo nós que a população portuguesa em 1970 era de 8,59 milhões, e tendo sido mobilizados 570 mil militares metropolitanos (70% de 800 mil no total, incluindo a tropa do recrutamento local), o número de jovens marcoenses que foram parar ao ultramar (Angola, Guiné e Moçambique) terá sido da ordem dos 2800.
Em chegando o verão, há foguetes e alegria no ar. Há festa, há a festa anual da padroeira de Paredes de Viadores, da freguesia do mesmo nome (mas agora mais comprido, já que a Paredes de Viadores juntou-se também a antiga freguesia de Manhuncelos).
Por estas terras também andou o lendário herói do "banditismo social", Zé do Telhado ( Castelões de Recesinhos, Penafiel, 1818 / Mucari, Malanje, Angola, 1875). e o seu bando, cujas façanhas ficaram na memória das gentes dos vales do Sousa e Tâmega (onde nasceu Portugal). Desterrado, Zé do Telhado morreu em Angola (onde a sua memória ainda é, ao que parece, venerada).
Por aqui, Marco de Canaveses e Baião, passa também a rota do românico... que os portugueses de hoje deviam fazer pelo menos uma vez na vida!...
Lista nº 1 - Discriminação das despesas, por ordem decrescente, da Festa de Nossa Senhora do Socorro (1960), Paredes de Viadores, Marco de Canaveses.
Total =17677$80 | 9168 €
Como termo de comparação, registe-se que nessa época (1960) um jornaleiro ganhava, em média, 20 escudos (10 euros) por dia, enquanto um oficial (como o José Carneiro, ramadeiro, construtor de ramadas) cobrava 50 escudos (25 euros) pelo seu trabalho diário.(##)
Em chegando o verão, há foguetes e alegria no ar. Há festa, há a festa anual da padroeira de Paredes de Viadores, da freguesia do mesmo nome (mas agora mais comprido, já que a Paredes de Viadores juntou-se também a antiga freguesia de Manhuncelos).
Por estas terras também andou o lendário herói do "banditismo social", Zé do Telhado ( Castelões de Recesinhos, Penafiel, 1818 / Mucari, Malanje, Angola, 1875). e o seu bando, cujas façanhas ficaram na memória das gentes dos vales do Sousa e Tâmega (onde nasceu Portugal). Desterrado, Zé do Telhado morreu em Angola (onde a sua memória ainda é, ao que parece, venerada).
Por aqui, Marco de Canaveses e Baião, passa também a rota do românico... que os portugueses de hoje deviam fazer pelo menos uma vez na vida!...
Por curiosidade, qual o orçamento desta festa ? Não tenho dados recentes, mas encontrei na Quinta de Candoz um apontamento de há 65 anos atrás. Trata-se da folha, manuscrita, com a escrituração das despesas e receitas, feita por José Carneiro (1911-1996), mordomo da festa, proprietário da Quinta de Candoz.
Segundo a filha, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares, "Nita" (1947-2023), era referente à festa do ano de 1960, em que ela própria também participou, então com os seus 13 anos. (#).
Lista 1 - Despesa / Valor (em escudos | em euros, a preços de 1960)
- Fogo de quatro fogueteiros > 7600$00 | 3941 €
- Música (sic) dos B. V. Portuenses > 4100$00 | 2126 €
- Iluminação > 2750$00 | 1426 €
- Música (sic) dos B. V. de Rio Mau [Penafiel] > 2500$00 | 1297 €
- Carne para os músicos [ das bandas] > 1222$00 | 634 €
- Vinho para os músicos > 1000$00 | 519 €
- Armação [dos andores] > 1000$00 | 519 €
- Mercearias > 763$60 | 396 €
- Zés Pereiras > 450$00 | 233 €
- Padres 450$00 | 233 €
- Guarda [Nacional] Republicana > 360$00 | 187 €
- Tipografia: programas e estampas > 290$00 | 150 €
- Autofalante > 250$00 | 130 €
- Carpinteiro do sr. Geraldes [do Juncal] > 162$00 | 84 €
- Câmara [Municipal]: Energia e eletricista > 137$50 | 71 €
- 4 quilos de cavacas para os anjinhos > 100$00 | 52 €
- Pão de trigo e de milho > 96$00 | 50 €
- Licença da Câmara para as músicas > 66$00 | 34 €
- Flores e correio > 58$80 | 30 €
- João de Magalhães [que deitou o fogo] > 50$00 | 26 €
- Gratificação para o electricista > 50$00 | 26 €
- Carro em que regressou a GNR [ao posto, que era na vila] > 40$00 | 21 €
- Expediente > 28$80 | 15 €
- Selo de 35 programas > 14$40 | 7 €
- Despacho do fio de cobre para iluminação > 9$70 | 5 €
Lista 2 - Receita / Valor (em escudos | em euros, a preços de 1960)
- Recebeu-se dos mordomos de Paredes > 5791$60 | 3004 €
- Recebeu-se dos mordomos de Viadores > 5186$50 | 2690 €
- Rendeu a festa em dinheiro > 4240$20 | 2199 €
- Apurou-se em ouro [oferecido à santa] > 1817$50 | 943 €
- Renderam as flores [de papel] > 642$00 | 333 €
Total =17677$80 | 9168 €
Lista nº 2 - Discriminação das receitas, por ordem decrescente, da Festa de Nossa Senhora do Socorro (1960), Paredes de Viadores, Marco de Canaveses.
O prejuízo da festa (c. 5,8 contos) foi dividido pelos 6 mordomos que constituíam a comissão organizadora, tendo cabido 961$63, a cada um, ou seja, 499 € a preços de 1960… Outros tempos, outras gentes, outros valores!...
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O famoso "santo Antoninho" dos anos 60... A nota de "20 paus" (cópia)...(Segundo o Museu de Lisboa , a nota de 20$00 com a imagem de Santo António foi emitida pela primeira vez a 16 de janeiro de 1965. Com a data de 26 de maio de 1964, no total foram emitidos 299,1 milhões de notas. A 30 de maio de 1986 estás notas foram retiradas de circulação.) |
Como termo de comparação, registe-se que nessa época (1960) um jornaleiro ganhava, em média, 20 escudos (10 euros) por dia, enquanto um oficial (como o José Carneiro, ramadeiro, construtor de ramadas) cobrava 50 escudos (25 euros) pelo seu trabalho diário.(##)
A "Nita" lembrava-se, tinha ela 13 anos já feitos, de andar na festa a angariar dinheiro com as florinhas de papel que eram espetadas, com um alfinete, na lapela do casaco dos homens, à entrada do recinto. As receitas que daí provieram ainda atingiram uma cifra razoável para a época: 642$00 (333 €)... (###)
(##) Vd. logue A Nossa Quinta de Candoz > 29 agosto 2012 > José Carneiro (1911-1996), construtor civil de ramadas
Também era vulgar as pessoas ofereceram à santa padroeira da freguesia, a Nª Srª do Socorro, objetos em ouro (brincos, cordões, anéis, fios, etc.), como forma de pagamento de promessas.
Repare-se, por outro lado, que o foguetório já nessa altura representava 1/3 do total das despesas, e mais de outro tanto a contratação de duas bandas de músicas (uma do Porto e outra local, Rio Mau, Penafiel, concelho vizinho), pagas em dinheiro e em géneros (38%). As duas bandas tocavam à compita.
Repare-se, por outro lado, que o foguetório já nessa altura representava 1/3 do total das despesas, e mais de outro tanto a contratação de duas bandas de músicas (uma do Porto e outra local, Rio Mau, Penafiel, concelho vizinho), pagas em dinheiro e em géneros (38%). As duas bandas tocavam à compita.
Nas despesas com os padres (450 escudos), inclui-se o pregador, que vinha de fora.
Quanto às receitas, note-se que mais de 60% do total era constituído pelos peditórios, casa a casa, feitos por 2 grupos de mordomos, os de Paredes e os de Viadores, representando as duas metades do território da freguesia.
Também como termo de comparação, refira-se que, hoje em dia, o compasso pascal da freguesia gasta facilmente em 10 ou 20 minutos de fogo de artifício 10, 20 a 30 mil euros...É uma estimativa, grosseira, de quem está por dentro do assunto.
José Carneiro foi mais de uma vez mordomo destas festas de Nº Srª do Socorro, que se realiza todos os anos no último domingo de julho.
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José Carneiro foi mais de uma vez mordomo destas festas de Nº Srª do Socorro, que se realiza todos os anos no último domingo de julho.
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Notas do autor:
(#) Blogue A Nossa Quinta de Candoz > 30 agosto 2012 > José Carneiro (1911-1996). mordomo da festa da Nossa Senhora do Socorro em 1960
(##) Vd. logue A Nossa Quinta de Candoz > 29 agosto 2012 > José Carneiro (1911-1996), construtor civil de ramadas
(###) Utilizámos o simulador de inflação da Pordata para fazer a conversão de escudos em euros (à data de 1960).
1 comentário:
Diz a nossa amiga Laura: as contas estão mal feitas, "um euro eram 200 escudos"...
Uma coisa é a taxa de conversão entre escudos e euros que foi estabelecida a 31 de dezembro de 1998, tendo o valor de 1 euro sido fixado em 200,482 escudos (uma roubalheira).
Utilizei o simulador de inflação da Pordata.
Ou seja, temos que ter em conta a depreciação da moeda ao longo do tempo...Assim: 200 escudos em 1960 valeriam hoje 104 euros (era muito dinheiro!); em 1970, 69 euros; em 1974, 39 euros; em 1980, 13 euros; em 1990, 3 euros; em 1998, 2 euros; em 2000, 2 euros; em 2010, 1 euro; em 2020, 1 euro; em 2024, 1 euro...
Esta ferramenta da Pordata (o INE também tem uma) "permite converter para preços do ano corrente qualquer montante monetário do passado, desde 1960, utilizando o deflator anual do Índice de Preços no Consumidor (IPC) 'base 2012'. Trata-se de transformar valores a preços correntes/nominais em valores a preços constantes/reais, descontando a inflação"....
Para usar a ferramenta, há que indicar:
(i) o valor monetário;
(iii) a moeda (euros ou escudos);
(iii) e o ano a que corresponde esse valor.
Espero que a informação seja últil a todos/as.
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