08 setembro 2010

Efemérides: Angola, Camabatela, 8 de Setembro de 1970: O mano Zé estava na guerra e fazia 22 anos anos...







Imagens: A Nossa Quinta de Candoz (2010). Todos os direitos reservados



Reprodução da carta que a mana  Chita mandou ao mano Zé quando ele fez 22 aninhos... Ele, lá longe, no Norte de Angola, em Camabatela, para onde a Pátria o chamou, entre 1969 e 1972, uma eternidade...Ela já a trabalhar, mas ainda a viver em Candós, na casa dos pais... O mano Zé era 1º Cabo Transmissões de Infantaria, de rendição individual, numa companhia que guardava os cafezais lá região, perto de Negage e de Quitexe... Mas a gente não se lembra agora do número da companhia... Sabemos que o Zé nunca mais se voltou a encontrar com os seus antigos camaradas... 40 anos depois, quando faz 62 aninhos, quisemos fazer-lhe esta surpresa. Eu,  Chita, o Luís, a Nitas, o Gusto, a Rosa, o Quim... e o Pedro, sócios de A Nossa Quinta de Candoz, só lhe podemos desejar mais outros 40!... Muita saúde e longa vida, porque a um homem bom como tu Deus dá tudo... Um xi-coração apertadinho da tua mana...

PS - Ah!, e obrigada por teres arquivado as cartas e os aerogramas que a gente te mandava!... Tudo direitinho!...

Candós, 9.9.70


Querido Mano:


Após algumas horas terem passado do teu aniversário [, ontem, dia 8,], aqui estou a contar-te como o passámos.


Como já há 6 anos que lá não [ ia, à festa do Castelinho, ], este ano sempre me decidi e fomos, eu, o pai, a Rosa, o Quim, António e Graça. Fomos de manhã e chegámos à noite.


Para te dizer que gostei muito, isso não. Sabes que só era alegria quando fazíamos as viagens a pé. Agora ninguém o faz e portanto deixa de ter aquela alegria sã como dantes. Isto é a minha opinião!... Mas julgo que a dos outros será a mesma.


Assisti à Santa Missa no adro e depois do almoço fui para o penedo onde permaneci até vir embora. Não estava calor, pois de manhã tinha chovido, portanto não fazia pó. Fomos todos à capela rezar por ti e assim se passou o dia.


Não andava muito contente mas isto são problemas de 'amor'. E também por que estou muito magra, depois que vim de Lisboa já emagreci ainda mais 4 kg. 

Também te quero dizer que hoje mesmo recebi mais uma carta tua. Até que enfim te decidiste a escrever-me. Acredita que andei uns tempos chateada, mas já passou. 

Quanto às fotos realmente tens razão. Eu tinha uma série delas tiradas em Pegões, e ficaram de mas mandar, mas até hoje ainda nada apareceu. Até eu estou a ficar aborrecida, mas o remédio é ter paciência. Quando me for possível, eu tas mandarei.


Neste momento estou a escrever-te do consultório médico. Vim com a mãe, vamos ver o que diz o médico. Não te aflijas porque [ela] anda bem, o médico é que quer ver se está melhor.

Quanto às uvas, para já o preço de 2$80 o kg, não é mau de todo mas a s vindimas só podem ser feitas a partir do dia 28. Isso é que será pior e mais ainda se agora não parar a chuva, então teremos tudo podre.


Por hoje é tudo, resta-me finalizar com um abraço da família Barbosa e meninas, cumprimentos dos vizinhos, beijinhos dos pais e da tua mana uma xi-coração de amizade. Maria Alice.


PS – Escreve para casa porque, embora trabalhe todos os dias, venho cá dormir.





















Angola > > Cuanza Norte > Ambaca > Camabatela > Janeiro de 1974 > Avenida central de Camabatela; ao fundo,  a igreja católica.  A cidade de Camabatela (ou Kamabatela, como também se escreve hoje ) foi fundada pelos portugueses em 1611, e é  sede do município de Ambaca, na província do Cuanza Norte (ou Kwanza-Norte), a leste de Luanda. Foto de Henrique J. C. de Oliveira, Cambatela, 1/1/1974.

Foto: Cortesia de Prof2000 > Aveiro e Cultura > Arquivo Digital

4 comentários:

gust disse...

muito bom tia nunca imaginei que tivessem coisas assim
bjs
cuca

Anónimo disse...

Gostei de ver este site, chamou-me atenção por falar em Camabatela. minha rica terra onde cresci e casei com um furriel que estava na tropa nesta data que é focada. O mano Zé de certeza que me conheceu porque eu era filha do dono do hotel Bandeira e casei com o furriel Vicente, Felicidades para todos.

Anónimo disse...

Que saudades!
Sou de Camabatela e procuro um familiar, Antonio dos Santos (Parada), Portugues, na altura também conhecido por Conhé. Era Sobrinho do Senhor Mario, que tinha loja em Camabatela e também no Luinga ao pé da Igreja.

Agradeço a quem tenha alguma informação que me contacte - ajjrs@hotmail.com

Cumprimentos

Anónimo disse...

Nunca fui a Luinga, mas ouvi falar. Estive sempre em Camabatela, nos destacamentos do Bindo e Granja. Fui uma vez a Carmona de muitas vezes ao Negage.

Conheci o Hotel Bandeira, mas não me lembro da "noiva" nem estou a ver a cara do furriel Vicente, mas tenho ideia que havia um furrilel com esse nome no meu tempo. Só me lembro da miss Cuca, que vivia frente ao quartel.

Saudações, José Cerneiro, Quinta de Candoz, Marco de Canaveses.