Setenta rosas para setenta anos... A oferta dos manos... O cartão diz: "Parabéns!" e traz uns versinhos onde se lê: "Querida Nitas, por mor dos teus setenta anos, / Aceita este ramalhete com setenta rosas, / Que outras tantas vidas venturosas / Te desejamos, os teis qu'ridos manos". data e local: 15 de janeiro de 2017, Porto, Hotel Ipanema Park. Assinado: Zé + Teresa, Rosa + Quim, Tó + Graça, Alice + Luís, Manel + Mi.
A aniversariante (Nitas),. os manos (Tó e Zé) e as manas (Alice e Rosa) na festa de aniversário, Porto, Hotel Ipanema Park, 15/1/2017
Fotos: Luís Graça (2017)
Nitas: a minha autobiografia ao km 70
da autoestrada da vida
por Luís Graça
1
Sou a mais
novinha de três irmãs,
Rosa, Alice
e eu, Ana… Belos frutos
Dos senhores
de Candoz que, astutos,
Nos tratavam
como belas… romãs.
2
Tive uma
infância alegre e feliz
E até dizem
que fui muito mimada,
Eu, das
coisas más, não me lembro nada,
Aceitei o
destino como Deus o quis.
3
Sortuda,
tenho mais três manos, rapazes,
Tó, Manel e
Zé: nunca me deixaram mal,
Têm orgulho
da terra natal,
São bons
pais e avós, homens capazes.
4
No Porto
estudei para mais aprender,
E aos meus
pais e manos estou obrigada,
Pelo
Instituto fui diplomada,
E senhora
engenheira passei a ser.
5
E as belas
tranças que cortei, um dia ?
Não mais era
rapariga de aldeia.
—Pst!, pst! —
diz o Gusto — E aí a chamei,
E tirei-lhe
uma foto, que alegria!
6
Então, a
seta o Cupido lançou,
Certeira, ao
meu pobre coração,
Foi numa
tarde de fim de verão,
Que o amor
da minha vida começou.
7
— Mas sete
anos o meu sogro servi,
Na mira de
contigo, amor, casar —
Diz o Gusto:
— Fazíamos belo par,
E só passei
a ter olhos p’ra ti!
8
Foi de
arromba e de amor o meu casório,
Felicíssimos
os meus pais, Zé e Maria,
Mais do que
química, foi alquimia,
Com o meu
Gusto montei um… laboratório!
9
O coração
das mães é como o mar,
Tão grande que
apaga sulcos e trilhos,
Sempre de
abraços abertos pr’ os filhos,
E pr’as
queridas noras que lhes calhar.
10
Pois, dou
graças a todos e a Deus,
P’ las
mercês do amor e da amizade,
Quero chegar
a proveta idade
Para ainda
ver crescer os netos meus.
11
Meu cabelo
branco não tem mistério,
Gosto de
assumir o que é natural,
Pintá-lo,
sim, é artificial,
E para quê ?
Não há cores no… cemitério!
12
Não me vejo
nem me sinto reformada,
Tenho o
coro, a casa da Madalena,
E Candoz, a
lida não é pequena,
Tomara gente
estar tão bem empregada!
13
Não é tarde
p´ra cavaquinho tocar,
Cantar ou
outro instrumento aprender,
A música
alegra o nosso viver,
Que eu
sozinha que é não quero estar.
14
E sou também
uma avó babadíssima,
Tudo por
causa da minha Carolina,
Eu a pensar
ser minha triste sina
Ter qu’ viver
uma velhice… chatíssima.
15
Espero, meus
amigos, que desta festa
Tenham
gostado… Por mim, adorei,
No
centenário…, vos convidarei,
De novo,
pois não há amiga... como esta!
16
A vós todos,
o meu muito obrigada,
Saio do
hotel como uma princesa,
Tive muito
amor, muitos mimos à mesa,
Sou uma
menina… privilegiada!
Porto, Hotel
Ipanema Park,
15 de
janeiro de 2017
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