Fotos: álbum da família (com a devida vénia)
1. Palavras ditas pelo filho Tiago, 40 anos, na missa de corpo presente, dia 25 de março, na igreja de Padrão da Légua, Matosinhos, reproduzidas aqui com a devida vénia (*):
Mãe,
De todos os dias da minha vida,
este era o que mais temia, e o que menos queria que chegasse. Metade de mim
partiu.
Levo comigo o teu sorriso daquele
último domingo enquanto brincavas com os teus netos.
Eras um abraço quentinho e sempre
aberto, um coração sem tamanho, onde cabiam na mesma medida todas as dores e
alegrias, as tuas e as de todos nós.
Eras toda emoção, de choro fácil,
mas de sorriso ainda mais. Eras pura em vontade de viver.
Tenho a certeza de que onde quer
que estejas, estás a olhar por nós, como sempre o fizeste e tão bem nos
ensinaste.
E tenho a certeza ainda maior de
que há nomes tão fortes que a morte só leva emprestado. Por isso havemos de
dançar, cantar, pintar, escrever, cozinhar, tocar ... enfim, havemos de criar!
Seja o que for, mas inspirados em ti e no sentimento que em nós deixaste
ganharás vida. E enquanto assim for nunca hás-de morrer!
Antes de mais queria agradecer a todos a vossa presença aqui, isto significa muito para nós e significaria muito para ela também, pois a coisa que ela mais cultivou ao longo da vida foi a amizade.
Desde a última vez que falei para a maioria dos presentes, que foi no casamento do meu irmão, muitas coisas mudaram, mas a principal, é o facto de a minha mãe estar na primeira fila, sendo ela a protagonista.
Para mim a minha mãe, entre tantas, definia-se com estas palavras:
(i) Honestidade – Deverá ser, a par do meu pai, a pessoa mais honesta que conheci, tudo para ela era sobre fazer o bem e corretamente; devo-lhes isso, aos meus pais, e todos os dias faço o meu melhor para que se orgulhem de mim e o que me ensinaram não tenha sido em vão:
(ii) Sensibilidade – Não era sensível, era hípersensível, conseguia chorar em todos as situações, más ou boas, e em muitas delas sem razão aparente, mas a ironia tem destas coisas… e hoje aqui estamos …todos a chorar e ela não;
(iii) Gratidão - A primeira palavra que lhe saía da boca para qualquer coisa de bom que lhe acontecia era a palavra “Obrigada”. Mesmo quando era comigo que a situação era boa, ela obrigava-me a agradecer e não descansava enquanto não o fizesse (E aproveitando esta alavra em especial ela quereria neste momento, assim como nós, agradecer ao Dr. Ricardo Pinto o seu empenho, profissionalismo e amizade pela minha mãe e que fez com que prolongasse ao máximo da vida dela e, portanto, a nossa felicidade: não existem palavras uficientes para agradecer a ele e a todos os profissionais do Hospital de S. João que trataram com carinho e amor a minha mãe, portanto vou ser prático e dizer como a minha mãe me ensinou “Muito Obrigado”.)
(iv) Regateadora – Possivelmente uma das maiores regateadoras que o mundo já viu, conseguia os melhores descontos com uma técnica muito apurada… um misto de paciência e determinação e provavelmente sendo um pouco somítica; para tal comprovar, tenho uma história, era eu criança e fomos comprar umas sapatilhas para mim na Rua de Costa Cabral, entramos e saímos de todas as lojas para ver todos os preços e voltámos à primeira que tínhamos visitado; depois de experimentar e de pedir para as levar, pediu o inevitável descontinho, ao que o dono da loja disse que não podia de maneira nenhuma, porque até estavam com 40% de desconto em plena época de saldos; ela não cedeu e meia hora depois saímos com as sapatilhas na mão e com mais 20 escudos no bolso; portanto tinha valido a pena!!!
(v) Amor – Acima de tudo um amor incondicional aos irmãos, cunhados, sobrinhos, amigos, ao
amor da vida dela de 50 anos, aos filhos, às noras e principalmente aos netos que foram no
fundo a razão maior para ter lutado tanto tempo pela vida, pois queria acompanhar o máximo
da vida deles.
Mãe, estas palavras são agora para ti, foste a melhor mãe do mundo, estou-te agradecido por tudo que fizeste por mim, o teu amor e o teu carinho, a tua sensibilidade e honestidade fizeram de mim o que sou hoje e apesar da tua aparente fragilidade foste a mais corajosa e
lutadora de todos os que conheci. Amo-te muito! Sei o que querias para mim e espero estar à altura.
De todas duas palavras deixei duas últim para o fim e que nunca pensei dizer tão cedo: Adeus Mãe!"
__________________
Sem comentários:
Enviar um comentário