26 março 2023

Na hora da despedida da Terra da Alegria: homenagem à nossa querida Nitas, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, 15 jan 1947 - Porto, 24 mar 2023) - Parte I (Luís Graça)


Ana Ferreira Carneiro, a nossa querida Nitas, na sua casa da Madalena, Vila Nova de Gaia, em 19/6/2019, no dia do casamento do filho mais novo, o Tiago, mas já com o diagnóstico da doença, a mielodisplasia, quatro anos depois, iria estar na origem da sua morte. Deu-nos um extraoridnário exemplo de abnegação, resistência, vontade de viver, amizade e amor,


Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Porto > Praça do Marquès > Igreja Senhora da Conceição >
6 de abril de 1974 >Casamento da Nitas e do Gusto




Porto >12 de agosto de 1979 > O Gusto e a Nitas:
batizado do primeiro filho, o Luís Filipe...


Fotos do álbum da família (com a devida vénia)



1. A Quinta de Candoz e a nossa família ficaram mais pobres, a partir de anteontem, com a morte da "Nitas"... De seu nome completo de casada, Ana Ferreira Carneiro Pinto Soares (Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, 15/1/1947 - Porto, 24/3/2023)

A engenheira  Ana Carneiro, carinhosamente conhecida por "Nitas", formou-se em 1973 (no antigo Instituto Industrial do Porto) e trabalhou desde então, e durante quase quatro décadas (até 2010), no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto, no departamento de Engenharia Química, Laboratório de Tecnologia Química.

Era irmã dos outros 3 sócios da Quinta de Candoz, Rosa, Alice e Zé. A segunda mais nova dos filhos do José Carneiro e da Maria Ferreira, era ainda irmã do Tó e do Manel.

Fez parte, já reformada, de vários grupos musicais (coros e cavaquinhos). Outro dos seus hobbies era a jardinagem.

Era casada com o Augusto Pinto Soares, "Gusto", economista, e gestor, reformado (coeditor do nosso blogue e o homem dos 7 sete ofícios da Quinta de Candoz).

Deixa dois filhos, Tiago, médico, e Filipe, inspetor tributário. E ainda dois netos, que muito a ajudaram a viver e a ter esperança: a Carolina (filha da Susana e do Filipe) e o João (filho da Sofia e do Tiago). Morava na Madalena, Vila Nova de Gaia.

As cerimónias fúnebres realizaram-se em dois locais:

(i) igreja do Padrão da Légua, São Mamede de Infesta, Matosinhos, com velório a partir das 18h00 do dia 24 de março, sexta-feira, e missa de corpo presente às 10h00, no sábado, dia 25;

(ii) seguindo depois o féretro para a sua terra natal, que ela tanto amava; o corpo desceu à terra por volta das 15h00, no cemitério da freguesia de Paredes de Viadores, Marco de Canaveses.


 


Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Festa da família Ferreira > 7 de setembro de 2013 > Juntou mais de 100 pessoas. A festa realiza-se desde meados dos anos 80 do séc. XX. A última tinha sido em 2011.

Neste vídeo mostra-se a exibição de um grupo de mulheres da família que cantam lindamente os tradicionais cantaréus da região do Douro Litoral (que só podem ou devem ser cantados pelas mulheres, nas vindimas, e estão hoje praticamente extintos, o termo aliás nem sequer está, lamentavelmente, grafado no Dicionário Periberam da Língua Portuguesa): Nitas, Mi, São (mulher do nosso violinista Júlio Veira Marques)... e Dolores Carneiro... A Nitas está de óculos escuros e xaile tradicional, e irradia uma fantástica energia. Ela adorava cantar e aprendeu a tocar cavaquinho, já depois de reformada.


Vídeo (1' 59''). Alojado em You Tube / Luís Graça (2013) (*)



2. Oração fúnebre dita na missa de corpo presente, na igreja do Padrão da Légua, Matosinhos, dia 25 de março de 2023, cerca das 11h00 (**):


Querida Nitas:

Hoje há lágrimas e suspiros. Hoje é o dia mais triste das nossas vidas. Agora que partiste para a tua última viagem, aquela que não tem retorno, há um nó na garganta que nos sufoca e não nos deixa dizer tudo o que nos vai na alma.

Sabes, na hora da morte dos que nos são queridos, as palavras de pouco nos servem de consolo. Escrevi-te tantos sonetos, quadras e outros textos poéticos, ao longo da tua vida, por ocasião dos teus aniversários e em outros momentos felizes que passámos juntos no seio das nossas famílias… Mas ficou, afinal, tanto por te dizer e partilhar contigo!...

Contra toda a evidência médica, fomos resistindo à ideia de te perder e fomos sempre alimentando a luzinha que, embora muito trémula, ainda era visível ao fundo do túnel, há uns meses atrás. Mas tu sabias que a vida te estava a escapar… não obstante a dedicação e a competência dos “anjos”, que no Hospital de São João, cuidaram de ti, a começar pelo teu hematologista, dr. Ricardo Pinto.

Recordo o que me escreveste, há um ano, agradecendo as palavras que eu te mandei, em meu nome e da tua mana Alice, por ocasião dos teus 75 anos. “Querido Luís: Quando partirmos para o outro lado do rio de Caronte, como tu dizes, o que fica para a posteridade, é o que tu escreves agora para nós… Tantas e tão lindas recordações. De nós pouco fica… Obrigada mais uma vez, a todos, por todo o carinho que recebo.” (Fim de citação).

Não, Nitas, de ti fica muito. Antes de mais, fica, em nós, uma saudade imensa. De ti, fica o teu sorriso luminoso, a tua grande bondade, a contagiante alegria de viver, a tua beleza interior, a tua gentileza, a tua fotogenia, o carinho com que tratavas as tuas plantas e flores na Madalena e em Candoz, o prazer com que ias para o coro e o cavaquinho, o orgulho, a ternura e o amor que tinhas pelo teu marido, Gusto, e pelos teus filhos Luís Filipe e José Tiago, o desvelo e o carinho que manifestavas pelos teus netos, e as tuas noras e a tua grande família: manos, cunhados, sobrinhos, etc.

Fica o exemplo extraordinário de abnegação e de resistência que deste ao longo de quatro anos de luta contra uma doença crónica degenerativa, cruel, irreversível, incurável, injusta. Tu não merecias este desfecho.

E fica o teu Gusto, sempre discreto mas eficiente e presente, sempre a teu lado, nos piores e melhores momentos, o Gusto, o teu grande companheiro de jornada, de estrada, o grande amor da tua vida. Fica o seu exemplo, para todos nós, de um extraordinário cuidador. Sem um ai, sem um ui, escudando-se muitas vezes na sombra, fora das luzes da ribalta, sem procurar protagonismo. Porque ele sabia que tu farias exatamente o mesmo por ele. Essa, sim, é uma grande prova de amor.

Fica ainda o exemplo do resto da tua família, que esteve sempre a teu lado, que soube ser carinhosa, fraterna e solidária na grande provação que foi a tua doença. Sem esquecer os teus bons amigos e antigos colegas, do ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto e dos grupos do coro e do cavaquinho…

Na tua morte, querida Nitas, todos morremos um pouco contigo. Falo em meu nome, em nome dos meus e dos teus, e de todos os demais que muito te amaram e que te vão recordar pela vida fora. Prometemos nunca te esquecer enquanto ainda tivermos do lado de cá do rio. Também já temos a moeda para dar ao barqueiro Caronte que nos há de levar ao teu encontro, na outra margem. Até lá vamos falando contigo, mesmo por entre lágrimas e suspiros. 

Recusamos dizer-te adeus, até sempre. Apenas, adeus, até um dia destes, querida Nitas!

Luís Graça

Sem comentários: