Lourinhã > Abril de 1999 > Luís Henriques (1920-2012) e Maria da Graça (n- 1922)
1. Texto de Luís Graça, publicado no jornal Alvorada, [Lourinhã,] nº 1103, 20 de abril de 2012, p. 26
Morreu o Luís Sapateiro (1920-2012), uma figura muita popular e querida da nossa terra
Luís Henriques, mais conhecido por Luís Sapateiro, nasceu na Lourinhã em 1920. Homem de fé, morreu no passado domingo de Páscoa, dia 8, na Atalaia, no Lar e Centro de Dia de N. Sra da Guia, onde vivia desde 2008 com a esposa, Maria da Graça.
Filho de Domingos Henriques e de Alvarina de Sousa, ficou órfão de mãe, aos dois anos. Viveu nos primeiros anos de infância com a nova família do pai, que casou pela terceira vez. Ao todo teve uma dúzia de irmãos. Depois de feita a 4ª classe, o seu primeiro emprego foi como marçano na loja do fotógrafo e comerciante Manuel Lourenço da Luz, pai do fotógrafo António José da Luz (Foto Luz).
Aos 13 anos, terá uma nova família de acolhimento, a do seu tio materno, Francisco de Sousa (Fofa), músico e industrial de sapataria. Aprende o ofício de sapateiro. Aos 20 anos assenta praça nas Caldas da Rainha. Entre julho de 1941 e setembro de 1943, esteve como expedicionário na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde. A saudade da terra era mitigada pela presença de diversos lourinhanenses que pertenciam à mesma unidade. Do Mindelo escreve à sua namorada, futura noiva e esposa: Maria, minha cachopa,/ Não me sais do pensamento, / Tão logo saia da tropa, /Trataremos do casamento…
De regresso à Lourinhã, faz sociedade com o seu irmão Domingos Severino. Abrem a sua própria oficina de sapataria, na Rua Miguel Bombarda. Casa, entretanto, em 1946. A 29 de janeiro de 1947 nasce o seu primeiro filho, Luís. Até 1964, terá ainda mais três raparigas: Graciete, Maria do Rosário e Ana Isabel.
Aos 13 anos, terá uma nova família de acolhimento, a do seu tio materno, Francisco de Sousa (Fofa), músico e industrial de sapataria. Aprende o ofício de sapateiro. Aos 20 anos assenta praça nas Caldas da Rainha. Entre julho de 1941 e setembro de 1943, esteve como expedicionário na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde. A saudade da terra era mitigada pela presença de diversos lourinhanenses que pertenciam à mesma unidade. Do Mindelo escreve à sua namorada, futura noiva e esposa: Maria, minha cachopa,/ Não me sais do pensamento, / Tão logo saia da tropa, /Trataremos do casamento…
De regresso à Lourinhã, faz sociedade com o seu irmão Domingos Severino. Abrem a sua própria oficina de sapataria, na Rua Miguel Bombarda. Casa, entretanto, em 1946. A 29 de janeiro de 1947 nasce o seu primeiro filho, Luís. Até 1964, terá ainda mais três raparigas: Graciete, Maria do Rosário e Ana Isabel.
Atleta amador, joga futebol e é treinador das camadas juvenis, ao mesmo tempo que participa na vida associativa das diversas coletividades da sua terra, desde o Sporting Clube Lourinhanense (SCL) até aos bombeiros, a banda de música e a misericórdia e ainda as irmandades de N. Sra dos Anjos e de São Sebastião. Quando morreu, era de há muito o sócio nº 1 do SCL, coletividade que de resto sempre o acarinhou e o homenageou, tanto em vida como na morte.
Era um bom lourinhanense, muito querido e estimado por toda a gente. Espirituoso, bem humorado, com jeito para o improviso poético, definia assim a sua terra: Lourinhã, uma vila catita, / Bonita, sem vaidade,/ tem montras como uma cidade, / Mas também ninguém nos engana: / Ao fim de semana, / Sem sol, sem bola e sem missa, / É uma terra de preguiça…
Trabalhador por conta própria, deu trabalho a muitos sapateiros. O seu negócio teve altos e baixos. Ainda está na memória de muita gente o local da sua última oficina, na Praça Coronel António Maria Batista, nº 9. Daí também o seu desabafo, sob a forma de parlenda popular: À segunda feira [o tradicional dia de descanso dos sapateiros] , o trabalho abunda; à terça, dor de cabeça; à quarta, trabalho à farta; à quinta, dança a pelintra; à sexta, o patrão é uma besta; ao sábado, o patrão arreliado… passa-se para o outro lado!
Era um bom lourinhanense, muito querido e estimado por toda a gente. Espirituoso, bem humorado, com jeito para o improviso poético, definia assim a sua terra: Lourinhã, uma vila catita, / Bonita, sem vaidade,/ tem montras como uma cidade, / Mas também ninguém nos engana: / Ao fim de semana, / Sem sol, sem bola e sem missa, / É uma terra de preguiça…
Trabalhador por conta própria, deu trabalho a muitos sapateiros. O seu negócio teve altos e baixos. Ainda está na memória de muita gente o local da sua última oficina, na Praça Coronel António Maria Batista, nº 9. Daí também o seu desabafo, sob a forma de parlenda popular: À segunda feira [o tradicional dia de descanso dos sapateiros] , o trabalho abunda; à terça, dor de cabeça; à quarta, trabalho à farta; à quinta, dança a pelintra; à sexta, o patrão é uma besta; ao sábado, o patrão arreliado… passa-se para o outro lado!
Foi, além disso, um bom pai e um avô carinhoso. Tinha 12 netos e 5 bisnetos. Viveu pobre e morreu pobre, mas com dignidade, vítima de doença prolongada. Escreveu um diário (cerca de 500 páginas manuscritas) entre 2008 e 2011.
Os seus familiares e amigos mais próximos lembrá-lo-ão sempre como um homem simples mas único, que irradiava alegria de viver e boa disposição. Não deixa “obra feita”, como sói dizer-se. Mas o seu exemplo de generosidade, bondade e otimismo perdura para além da morte. Para os seus filhos, netos e bisnetos, foi um privilégio tê-lo como pai e avô. Para eles, foi e será sempre o melhor pai e avô do mundo.
Uma palavra muito especial de agradecimento é devida à direção do SCL e ao pessoal do Lar e Centro de Dia de N. Sra. da Guia, na Atalaia, bem como ao médico dr.Rui Martins. Mas também aos seus parentes, amigos, conterrâneos e vizinhos que se interessaram pelo seu estado de saúde e que o acompanharam até à sua última morada na terra, incluindo os elementos do Coro Municipal da Lourinhã, Rui Mateus, Moura, Quim Zé e Ana Mateus que no cemitério cantaram para ele a famosa e sublime canção alpina Signore delle cime (do italiano Giuseppe de Marzi, 1958).
Texto e foto: Luís Graça.
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